quarta-feira, 30 de julho de 2008

últimas (compactadas)!!!

Aterrei às 17h… “frrio”, tirar o casaco da mochila e habituar os olhos à nebulosidade, à fraca luz refractada e… “Mafalda!”, tantos “Mafalda!”, cheguei a casa. E, este sentimento, aquece e apazigua as saudades. De volta… e agora, sem internet, escrevo e depois colocarei tudo de uma vez. Ainda falta uma semana em São Tomé, bala-bala. Agora é o leve-leve, melhor, o “sem stress e nas calmas”. A Lucy dorme no meu colo, a Renilda na esteira, a Judite e a Eustáquia na sala. Eu escrevo e a Piqui entrança-me o cabelo. O Gorila refila lá fora, teve de ir para a rua… estava a “portar mal de abuso”, e o tempo estica, as horas duram e vivem-se mais lentamente, há tempo para as saborear… organizo as fotografias de São Tomé e vou contando a segunda semana.
Como as obras no lar estavam, e continuam, num impasse por causa do financiamento e era necessário terminar o inventário dos donativos tive direito a mais uma semana na capital, que se prolongou até segunda-feira. Domingo seria a data… mas o avião teve uma avaria. Até domingo, porque vir quinta-feira ou domingo era indiferente para o Centro de Dia e eu ficava mais um fim-de-semana na cidade, mais tempo para acompanhar, apanhar o final da bienal e a festa de Santana.
Assim… da última vez estava de saída para a Festa Junina. O que é uma Festa Junina? A sua origem remonta ao antigo Egipto, onde, nesta altura do ano, se celebrava o início das colheitas adorando os deuses do sol e da fertilidade. Aquando do domínio romano esta tradição foi levada para o continente europeu, especialmente para Espanha e Portugal. Mais tarde, o Cristianismo tornou-se a religião maioritária do Ocidente e a festa manteve-se, mas com o cariz de homenagear São João Batista. Sendo o Brasil uma ex-colónia portuguesa, herdou e manteve este costume, especialmente no Nordeste, onde os festejos coincidem com a colheita do milho. As Festas Juninas (antigamente denominadas Joaninas) homenageiam, simultaneamente, Santo António, São João e São Pedro (os três santos principais reverenciados durante o mês de Junho). É a maior festa folclórica e popular brasileira, comemorada em todo o território daquele país, sofrendo já influências dos emigrantes. Esta época é vivida com brincadeiras, pratos típicos, dança e muita superstição, e nada disto faltou, para além da Dança da Quadrilha, que é um casamento típico realizado na Roça. O “Arraiá Junino” foi realizado no Largo do Bom Despacho, contíguo à Embaixada do Brasil, outrora degradado, agora recuperado por aquela e excelente para este tipo de iniciativas. O mais giro foi o ser aberto a todos e o bilhete de entrada ser um quilo de comida não perecível para ser entregue a famílias carenciadas. Entretanto o mestre Wipópó, que afinal é Wipipó, insistiu para que eu e a Mariana nos juntássemos à roda. Ora, eu não jogava há 4 anos, e durante esse tempo foram só uns míseros 6 meses, a Mariana é que é croma - 6 anos! - mas o Sayid estava rabugento. Lá fui eu sozinha. Com direito a abádá do grupo e tudo!!! Estava reticente em jogar e, ao ritmo de Angola, enganaram-me. Sem dar por isso já estava no meio da roda. Correu bem e foi bom para matar saudades e fazer renascer o bichinho. Durante a semana fui a mais umas rodas, uma delas no pestana, e a um treino, com o Gorila às costas!
O fim-de-semana da festa Junina foi também o fim-de-semana da festa na Madalena. Lá fomos, no sábado, depois do arraiá brasileiro. Comes, bebes, discoteca, palco e bulawé, nem o fogo de artifício faltou (chê… não acreditem não… era uma instalação elétrica! Mas na fotografia parece mesmo!). Domingo foi dia de missa na Madre Deus, para matar saudades, e praia das conchas com almoço nas Santolas. Santola é “bom de abuso”, mas desta vez serviram-nos os restos do casamento da sobrinha do dono, que tinha acontecido no dia anterior… Pelo menos tivemos direito a banana frita! (entretanto a criançada toda acordou, vieram acompanhar o Midrael e outro moço e descobriram-me um cabelo branco -”é da raça”- diz a piqui – só a lucy continua o seu sono. Não percebo como, com a confusão que aqui reina!). Ao mesmo tempo estou a tentar resolver uns problemas que Lisboa inventou… não entendem…
Finalmente o descanso… pelo menos o silêncio. Depois de 3 horas a entrançar o cabelo, ficou “chiqui de doer”, com perguntas, queixas, telefonemas e, ainda, a trabalhar sabe bem deitar o Gu e, a ouvir música calma, continuar o post.
Assim, a semana bónus foi muito bem aproveitada para acompanhar outras gentes, passar no campo de férias e ir a Santa Catarina ver o pôr-do-sol (este oferecido pela SCD, a companhia do avião que avariou e me proporcionou mais um dia na ilha). Passei a pente fino as várias exposições da Bienal, que, para mim, foi demasiado elitista e intelectual. Esqueceram a parte cultural do evento. Perderam uma excelente oportunidade de sensibilizar toda a população, de envolver mais gente, e, esqueceram o Príncipe… Poderiam, com pouco, ter levado a arte e a cultura às Roças, ter trazido gente das Roças às exposições e, apenas o Malé, utilizou materiais locais. Muito para crescer, muito para desenvolver. Mas houve iniciativas interessantes, como a “Noite Crioula”, noite com Bulawé e pratos típicos, na rua, em frente à Teia de Arte, ou o Tchiloli (na sua versão curta) que mantendo a tradição do ser ao ar livre, foi num espaço mais calmo, mais fechado… deu para entender!
Nos entretantos…
aprendi a fazer iogurtes com leite em pó. Muito simples. Leite meio gordo, daquele que se vende em saco, ao quilo. Meio quilo deste leite, água fria a olho e bater muito bem. Juntar um outro iogurte destes, que servirá de fermento, e tornar a bater bem. Logo de seguida água a ferver da mesma medida que a água fria, e… bater! Colocar nos copinhos de plástico (deu para 24), abafar muito bem e esperar 4 horas de relógio. “tanã!!!” Virá-los de “pernas para o ar” e… não caiem! Excelente! Prontos a serem comidos e frigorífico. Com cereais deram excelentes pequenos-almoços.
Vi um triângulo europeu e uma bomba de gasolina "chique de doer"!














Um barco no meio da cidade…


E um concerto com sistema de som avançado na Folha Fede.
E, claro, visitei a Casa dos Pequeninos. Uma instituição perto da EMAE, por trás do matadouro, que o meu distrito de Rotaract, o 1960, está a apoiar. Vale a pena… vão ao site, e quem quiser ajudar contacte!!!
Esta manhã foi bala bala a terminar a resolução dos problemas postos por Lisboa e com inscrições para a formação, que começa sexta-feira.
Antes que a net vá à vida… pássô ô!

sábado, 19 de julho de 2008

Ontem corria (conduzia) o carro da Mariana e sentia que já não conhecia as estradas de São Tomé. Já o tinha sentido aquando da visita guiada ao Rosado e ao Maltez (os dois oficiais da Sagres, amorosos, deram-me um poster do Navio). Já não há buracos, ou os que há são novos e os outros, os que eu cá tinha deixado e também tinha encontrado, desapareceram… e, assim, é estranho. O único que continua igual a si mesmo é o de Água Arroz, mas que agora está apenas numa cratera… estou uma estrangeira! Ontem acabámos o inventário, finalmente! Descobrimos, ainda, um caixote vindo de Espanha, - como sei que era de Espanha? Tinha um jornal gratuito em castelhano - (está vento demais…a Gravana é assim…) cheio de inutilidades e lixo. Como deu trabalho… pó, caixas, muda dali, puxa para acolá. “Complicadoê”… e cansativo! Saturante, mas já está. Saturante, especialmente pelo sentimento de inutilidade. Logísticas e armazéns fazem sentir longe da missão, mas é preciso! E lá fizemos. Eu, a Maria e a Elba. À noite, na Bienal, houve um Bufet de comida saudável apenas com produtos da terra. 100% vegetariano, ou vegetalista – como a senhora gostou de se denominar –. Eu não percebi a diferença… melhor, a diferença como me foi apresentada não me convenceu. Durante a manhã fui até à Mari buscar o meu vestido e a minha camisola, ficaram giros! A descer, de moto praça, apanhei um anúncio volante do Ecobank. A máquina estava na mochila e não deu para a sacar, o trânsito estava instável… tentem imaginar. Uma carrinha de caixa aberta decorada com um pano africano com fundo branco e todo preenchido a azul com o nome do banco, em letras 14 (talvez), todas “seguidinhas”. Na caixa aberta lençóis brancos, de lado, dizendo “semana dos particulares” e um rapaz com um microfone e uma coluna a falar dizendo coisas como “apróveiti esta simana! Abra sua conta no Ecobank. Só 500.000 STD! Grandi sémana dos párticularis!”. E lá passou o anúncio do Ecobank… Ah… e claro, quando acordei não havia água e quando cheguei a casa não havia energia. Mas à chegada da Dolores havia tudo!
Depois de escrever o primeiro parágrafo tomei o pequeno-almoço e fui até ao Companhia para um sumo natural. O Tó apanhou-me e fomos até Micóló acompanhar o pai e a madrasta dele, Cravid e Segunda, respectivamente. Mergulho na praia do governador e tentativa de furto - o Tó conhece São-Tomense bem demais e conseguimo-lo afugentar antes de ter oportunidade de concretizar – e Búzio do mar! Há tanto, tanto tempo (no Príncipe “áinda”, tradução? Não encontrei)… mas tinha malagueta demais e a boca ficou quente. Veio concon (um peixe) para amenizar e… malagueta demais também. Para esfriar, água, banana e gelado! Gelado de iogurte que a Segunda faz e me esteve a ensinar. Excelente mesmo e aqui vos deixo umas fotografias, bem como do fruto Tamarindo, que é amargo bastante. Mas, como disse o Tó, “nem todo é assim não, depende da madeira própria, há madeira vai ver é doce”. Conversas engraçadas como ele não querer ter filhos cedo mas mulher, que nem era dele nem de outro, pediu e ele fez, assim… e é isto que me faz feliz, são estes momentos, o lavar as mãos num alguidar, o ir a uma latrina, o visitar a cozinha e cozinhar debaixo da estacaria das casas, o sentar na rua só a conversar, o sentir a areia nos pés, o descalçar à entrada, que me fazem sentir uma deles sem perder a minha cultura e a minha essência. No entanto o momento delicioso, o momento ternurento do dia e insubstituível veio agora.
Estou a ir, que é como quem diz, vou até à embaixada do Brasil para a festa Junina. Vou fazer capoeira! Vim ver os e-mails… e uma carta da Nocas! Com envelope e tudo! Conta que já lhe caíram 4 dentes, já escreve com uma letra perfeitinha e já vai para a primeira classe… que saudades. Demais mesmo… que delícia… os desenhos, a caligrafia, as saudades e os beijinhos. (deixo-vos também com um triangulo de sinalização à moda “São-tomensiê”. – e a propósito deste triangulo… um dia, no Príncipe, estava um do género no chão. Abri bem os olhos e com atenção fui olhando a estrada para descobrir onde estaria o perigo. “PAFF” bateu-me um fio de electricidade no pára-brisas… afinal o perigo estava no ar, sem qualquer sinalização aérea, e como estavam a colocá-lo a sua localização era inconstante.)

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Xauê

Sem energia… sem água… mas com uma vista esplêndida! Esta semana tem sido assim. “Bem-vinda a São Tomé”, é o que costumo dizer… no Príncipe é muito raro tais faltas serem de notar. Quem é que naquela ilha precisa da energia das 00h00 às 7h00 (que é o período em que falta sempre)? Entretanto, ontem lá foram… O João e a Cristina (entre outros), mas estes deixam aquelas saudades de parar. A nostalgia. O querer, também, partir, mas querer ficar, ou ir para voltar… mas, depois, aparecem todos aqueles que também nos deram força, nos dão força, a quem nos ligamos mais, aqueles que nos dizem que “Máfálda já não vai não. Máfálda já é São-Tomensiê!” E lá tudo volta ao mesmo ritmo bala-bala levemente e… contam-se blocos de folhas, manuais em espanhol (que provavelmente nunca cá serão utilizados com o fim para o qual foram impressos), roupa, escolhem-se bugigangas e lixo (até comida nos enviaram!), pastas e dossiers. E, numa ida ao supermercado (o Intermar, mesmo ao lado do companhia, mais aportuguesado no servir e nos produtos vendidos, mas com o mesmo estilo de balcão do L&L) comete-se uma exorbitância. Compra-se Nutela!… que delícia!!! Oiço barulho… veio a energia… deixo de ouvir barulho… já se foi!
Terça-feira à noite lá houve o jantar da praxe, o da despedida. Nuns casos, um” até já” ansiado, um ir para voltar que apazigua as saudades, noutros, um “Adeus” bem sentido. Mas há sempre Portugal, esse nosso porto seguro de encontros e reencontros. E, porque estamos em São Tomé, até as despedidas têm de ser alegres! Era quarta-feira… depois de um dia em stress para os que partiram. Relatórios, últimas compras, últimos mergulhos… fomos até à Dolores dançar! Fechou às 2h30… e fugiu-se do aeroporto (as minhas desculpas… mas não aguento mesmo…!) Quinta-feira passou. Leve-leve… com as mensagens “chegámos bem” e uma tarde num armazém a separar donativos… Assim, a happy hour do companhia, a ouvir as mulheres dos batuques, umas cabo-verdianas que fazem precursão com instrumentos improvisados, desde jarros a sacos de plástico embrulhados em panos africanos, soube muito bem! Ah!... e a Joana Tinoco está cá e vai para o Príncipe, com o Duarte!
Depois percorremos a “night” cá do sítio. Parque (jantar), companhia (novamente), tropicana e golfe. Às 00h00 já estava dormindo…

quinta-feira, 17 de julho de 2008

E após uma semana... lá consegui vir à internet!!!



Bom dia!!! Quase boa tarde (sábado)… mas valeu a pena.
Dia 10, regresso a São Tomé para uns dias. Que saudades… e stress. Nicolau e Sílvia em stress no aeroporto do Príncipe. Pesagens, de bagagem e nossa, carga a mais ou a menos. Balança totalmente errada/estragada. Bagagem de mão, e os ananases que não foram pesados, e é uma avioneta. Chegada de turistas para o Bom-Bom e… a loucura! Três voos. Dois da SCD e um da STP Airways, que desta vez houve mesmo! Não foi só boato… (interrompo para umas brincadeiras com o Gu, matar saudades, ontem passou o final da tarde, a noite e, ainda, agora, grande parte da manhã em casa, na varanda… com colos dos babyssiters, por vezes, mas não é a mesma coisa). Chegada, deixar as malas em casa, e, pagode com a Cristina, o Leonel e o Carletas (dois polícias das nossas forças especiais que por cá estão a dar formação). Boa disposição e um hambúrguer com batatas e molho cor-de-rosa seguido de ida, com a Cristina, ao mercado (novo), comprar fruta e panos, e ao L&L (uma espécie de supermercado, venda a grosso e retalho, produtos do oriente, do ocidente e não sei “quêlá”, em locais diferentes, casinhas separadas, mas no mesmo edifício quadrangular, cada uma com um só balcão, de madeira, em vidro, com os produtos expostos na parte de trás, e vai-se pedindo, claro que não à vez, por cá não se respeitam filas, ou chegadas primeiro. A propósito deste civismo diferente, a Mariana contava, ontem, que aquando do reaparecimento do Petróleo (de tenpos a tempos vão faltando bens, seja por pura especulação seja porque o barco ainda não chegou) na ilha (não daquele que tanto se fala, mas nas bombas, para a cozinha) não havia fila de pessoas, mas de bules (garrafas). Mamão “piquinino” muito doce, dizem, cajamanga, maracujá e bananas para o Gu, bons preços e regateio. Panos giros… casa deixar as compras, avinagrar a fruta e descer para o companhia, ver gente, o social… e, por isso, o que deu mais gozo, o mais sentir em casa a maior alegria, foi sexta de manhã. Cedinho desci, à ”bóleia”, para a cidade. Praça de mototáxi e encontrei o Dunga. Santo Amaro, Changra e Água Telha. Crianças, animadores, pais, gente. Quatro horas não foram suficientes… ficou a promessa para mais tarde, e ainda falta Santana, Neves, Madre Deus e tantos outros. Modista. Mari. Apresentá-la à Cristina e… calças, saias e vestidos. Trabalho, trabalho e a Mari com a sua boa disposição, os seus elogios, a sua doçura, a sua amabilidade e a sua conversa divertida que nos faz querer ficar para além do tirar as medidas. Conversa em dia, Cristina cativada e almoço no Jasmim (nunca tinha provado o shuarma, boa surpresa). A tarde foi passada no lar a inventariar donativos chegados de… Cascais!!! Pois é… desde bibes do Amor de Deus, aos cadernos do Tomás da Escolinha do Largo, cujo irmão Salvador estudava na pré-primária e fazia uns desenhos muito engraçados, aos livros escolares, colecção inteira, da Maria Hatton, minha pioneira, sem qualquer sombra de dúvida, porque também os manuais do Pioneiro e do Explorador lá estavam. Jantar muito agradável no Pirata e… “night”! Primeira paragem? Festa de Bulawé na praia em frente à Rádio Nacional. Véspera do Dia da Independência e cidade salpicada de festas, a maior na Praça da Independência (desde as 19h, quando lá passei, com Dança Congo (dança/teatro típica), Bulawé, concertos… A festa, a da praia, estava fraquinha, e passámos ao Tropicana. Jogar snooker, eu não… nabisse! Claro que o passo seguinte foi de dança na Dolores, a primeira vez que paguei… e soube bem! Até às 4h da manhã, claro. Enquanto escrevo oiço Rui Veloso e fado, o Américo (guarda) está à janela a ouvir e pergunta-me intrigado “como se dança essa música lá?”.
E numa vinda minha à cidade o tempo é bala-bala e as solicitações são mais que muitas. Já terça-feira e há tanto para contar… tomo o pequeno-almoço com o Gorila. Cereais!!! Há nove meses que não comia (a não ser umas barrinhas que o Reicardo levou aquando da sua visita ao Príncipe), 95.000 DST. Caros demais. Mas vale a pena! (e lá vou sair outra vez…)
De volta. Paragem no inventário dos donativos. Ida à casa de banho, aflitinha mesmo… não havia papel higiénico, teve de ser uma dica da semana de 29 de Dezembro (não sei de que ano) e com direito a ver umas baratas, mortas, embrulhei-as, no resto da Dica de Semana, e vou levar para o Guzinho (adorou! devorou-as num ápice!).
Não perdendo o fio à meada… Sábado, depois de explicar que o fado não se dança, escuta-se, saí com a Mariana, o Malik, o Sayd e o Gorila para almoçar em Folha Fede (perto da Trinadade). Não havia comida… e lá descemos para a cidade, para o Parque. Vermelho! Já não comia há muito e estava delicioso. Tarde passada entre o Liceu, na festa de encerramento do ano lectivo dos cursos profissionais, e a Praça da Independência, onde se festejava o… Dia da Independência (12 de Julho). À boa maneira São-tomense… “tudo ao molho e fé em Deus”. Assim, Tchiloli, Dança Congo, Roda de Capoeira, concerto e Bulawé, na mesma praça e ao mesmo tempo! O Tchiloli é a Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos Magno, com inúmeras aculturações em que cada pormenor do guarda roupa e cena é uma partilha de cultura portuguesa e africana, plena de significados e onde se mantém a tradição do Séc.XVII, em que as mulheres não participavam e, assim, memso os personagens femininos são interpretados por homens. A Dança Congo é tradicional de cá, mas é introduzida do Congo, “tem Diabo, é diabólica”. Roda de Capoeira e concerto sabem… Festa em grande, iniciada ao final da tarde de sexta-feira com o acender da chama da independência à meia noite, a qual ainda vi acesa no caminho, a pé, da Dolores para casa.
Para além desta festa houve o acto principal, em Guadalupe, no distrito de Lobata. Naturalmente a estrada foi toda arranjada e todo o distrito estava engalanado com os bordos da estrada e muros pintados de branco. O capim cortado, as “bermas” varridas, o alcatrão pintado com frases alusivas ao 12 de Julho. No Príncipe o acto Central foi na Roça de Sundy e pelo que soube correu muito bem, apesar das dificuldades que a CST teve, durante a semana, de para lá instalar routers de internet e telefone.
Sábado também é fim-de-semana e a festa foi no Bigodes. Fraquinha, no inicio, mas depois ficou quente. Mais kizomba, menos tecno, menos Europa, mais África. Domingo!!! Visitar e almoçar na Sagres. Reviver dias de miúda, dias em que corria no convés. Boas conversas e bacalhau à Brás. Pasteis de nata e a boa hospitalidade da marinha Portuguesa. Regresso a terra e mais uma tentativa frustrada de ir ao cinema. Foi encerado e só na quarta-feira… À falta de dinheiro para o jantar, comprámos um pacote de esparguete e fez-se uma excelente (na medida do possível visto a qualidade da matéria prima, e desta vez não é da cozinheira…) massa com alho e orégãos. Segunda-feira de manhã a arrumar o quarto. Só a minha mãe sabe como é uma tarefa árdua… e pensando que em São Tomé é raro ir à praia. Toca o telemóvel e era a Cristina a convidar-me para ir com ela, a Marina e o Filipe até às Conchas. Mar batido e lindo! Verde e azul. Sol e uma boa manhã na praia. Primeiro banho de mar do Gorila… atrás de mim e veio uma onda. Banho e atrapalhação… como odeia água! Tarde inventariando… “rogando pragas” pelo lixo que mandam… acompanhar gente e jantar na Papa-Figo, e acabou a noite. Tropicana não… e não há muitos mais sítios. Diversão? Ver “brrancos” a chegar ao Pestana nas carrinhas e gritar “Brranco! Brranco!”. Conversa puxa conversa e lá se viu mais uma vez nascer o sol, para adormecer e acordar duas horas depois com a Cristina a pedir para fazer de cicerone a dois oficiais da Sagres. Com todo o gosto… esperando que me apanhassem tomei o pequeno-almoço com o Gorila, que num dilema entre a sua educação e a sua natureza, indecisamente estendia a mão numa de tentação de roubar os cereais ou pedir. Optava por não roubar (já sabe a palmada que o espera) e lá lhe dava alguns (bem que no Príncipe dizem que é um macaco europeu). “Bip-bip” e boca do inferno, Santana, Nova Olinda, Água Izé e é bom matar saudades, ver gente, crescida, saber dos pontos (exames de final do período), alegrar-me com as passagens de ano, ver o Raí e o Lizandro enormes, apenas dois meses… sentir novamente o abraço da Jeje e do Miguel, saber que está tudo bem. Ver o padre Cristóvão e notar que continua igual a si mesmo. Partilhar esta gente toda com outros. Esta vivência tão rica que é ter amigos tão diferentes e que nos querem tanto, que se preocupam tanto connosco e que no nosso coração vão estando guardados apesar da distância entre as duas ilhas. Pedidos para ficar mais tempo… mas o tempo é bala-bala e os oficiais têm de estar em Fernão Dias, para embarcar, às 14h00. Fotografias aos rios salpicados de cor. A cor das nossas roupas que as lavadeiras, as mães, as irmãs ou mesmo as filhas acabaram de lavar e agora esperam que sequem estendidas nos seixos dos rios. Passagem no Ôssobo, outro projecto da Santa Casa, loja de escoamento dos produtos de micro-crédito, para comprar os “souvenires” – como acho a palavra pirosa… - e seguir para o Jasmim almoçar uma omelete da terra. Não muito típico, mas o suficiente para matar o gosto, e, sem dúvida o mais rápido! E… lar inventariar!
(E viva o emplastro!)



quarta-feira, 9 de julho de 2008

Gorila, Centro, TVS e gente

Começar o dia com o Gorila a chamar para fazer as necessidades na rua… escusava de ser às cinco da manhã, depois de me ter deitado às vinte e três… e muito! Mas chamou, e é sinal de estar a ficar civilizado, pelo menos isso! Ontem, o Eilen (um irmão Eudista, congregação religiosa masculina que está no Príncipe) dizia que o Gorila estava muito bem-educado!
Pois é… a loucura continua! Depois do João e do Filipe, a Sílvia! Diferente… reuniões e transportá-la. A carrinha não mexe o banco e ela não chega bem aos pedais e ao volante. O meu dia ficou virado do avesso e é excelente! O centro já está quase a abrir e estou contente. Poder chegar a 35 pessoas nesta primeira fase vai ser consolador, mas motivante vai ser criar condições para chegar a muitas mais! Vem aí trabalho! Bastante e “de abuso”… fichas, inventários, fiscalizar, organizar, animar… ansiosa! E, agora, uma ida a São Tomé para matar saudades e despedidas. Entretanto, por cá, lá sucedem os momentos deliciosos. Ontem, uma mão cheia de crianças, trepou e saltou o cercado da parte de trás do Centro. Estava eu, o Marcelo e o Nicolau a finalizar o plano de formação… gargalhadas, olhos curiosos, “branca!branca!” e “Malvada!”. Mãos e pés rápidos, já estavam cá dentro. Nicolau com cara de mau a passo rápido e “vssssttt”, num ápice apareceram do outro lado do cercado e desapareceram no embrenhado de casas que dá para a Rua Nova. Gargalhadas, minhas e do Marcelo, mas, ar sério, aquando do regresso do Nicolau. Finalizámos o plano de formação.
Nos entretantos… o pé já está quase, quase bom e ontem fui nadar uma hora para Abade. Deliciosamente vi roupa estendida numa corda, num alpendre de uma casa. Presa com molas, molas por cores, aos pares (mãe, só faltou condizerem com a roupa…), ao invés da roupa estendida no alcatrão, quis tirar uma fotografia… não faltou o rolo, mas o cartão de memória! Oiço mais concepções inovadoras acerca da relação homem/mulher e que coisa estranha, essa dos Europeus se apaixonarem… e eles que se apaixonam à primeira vista tantas vezes - “Mas não é essa paixão.” – vá-se lá entender. Muitos desastres de mota obrigaram o governo a legislar sobre a obrigatoriedade do uso do capacete aquando do deslocamento nas motas. Uma campanha publicitária foi feita… o slogan? “Mais vale um pé na travão que dois no caixão!” Mas esta não é a única “maravilha” da televisão São-tomense… Rafael Branco foi empossado primeiro-ministro, dias mais tarde uma campanha de apoio ao primeiro ministro passou na televisão, fotografias, filmes e ditos como “O Rafas é amigo do seu amigo!” “o Rafas é gente simples” acompanhado de uma fotografia do senhor com uma enxada na mão… pérolas da TVS.
“Ó Mafalda, você tem culpa sim. Quem mandou ser bonita, jeitosa, quente… Meu coração guardou por si. Ninguém te supera, e eu já tive muitas mulhere. Estudei.. Que posso fazer? Dá um beijo para eu consolar.” “Está a ser verdadeira sim. É uma esperança!” E lá decidi que era melhor despachar antes de me rir às gargalhadas, que já estava a ser complicado conter, e magoar mais um “coração” que tremia ao falar e à minha não correspondência. O que vale é que é amor de pouca dura.
Está fresquinho… ontem calor, hoje fresco e com pingas. Apetece calçar meias…

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ritmo bala-bala

O ritmo tresloucado dos fins-de-semana continua… depois de, na 4ª feira, ter decidido ir às irmãs ver do pé, estava bem pior e as dores tinham regressado em força, soube bem chegar a casa e ouvir música, ver gente a dançar, sentir movimento, notar que não ia estar descansada. Era o Marcelo com a sua escola de dança (à qual me vou juntar na próxima quarta-feira). E, assim, fiquei a gozar o desassossego, tomei o antibiótico que a irmã me deu – o que o médico receitou não há na ilha – e fiquei melhor! Entretanto, precisei de sair à noite, bem tarde, 22h, e o carro… niente! Não arrancou. Não acendeu luz nenhuma. Não funcionou. E, para juntar à festa, havia alguém a rondar o Centro. O Nicolau acudiu-me logo, fiquei a saber que a Lília e a Liliete (sobrinhas gémeas do Nicolau) faziam anos, dei-lhes os parabéns e a Lília veio dormir comigo. (Está um mosqui – estava! - Acabei de o matar. Ainda não tinha escrito completamente a palavra quando passou à minha frente, novamente, debaixo da rede, e “pá!”, foi-se. Enquanto pensava que era uma “chatice” ter um mosquito dentro do mosquiteiro, apareceu uma lagartixa, que seguiu caminho para trás do armário, e não está a cumprir o seu dever…) Retomando… com estas coisas não tive a sesta e deitei-me tarde. A noite foi boa mas curta… às 7h lá tinha a Fátima com o seu bem disposto “Máfalda! Máfalda”, e claro que não podia deixar de retribuir! Tinha de tratar do carro e das dores… e, ainda, o João e o Filipe chegariam às 10h30 (e, logo na quinta, que dava jeito, o avião não atrasou). O Nicolau desenrascou a chegada do Filipe e do João. As dores… aguentam-se. O carro é que já não se aguenta! Problema eléctrico (o Nando, condutor do Presidente da Assembleia, diagnosticou o problema – também é mecânico – e encontrou-me um electricista), a bateria que caiu do sítio (as estradas cá são “excelentes”), partiu algumas pás da ventoinha, o carro aqueceu e ficámos parados a caminho de Sundy. 3 leigos em mecânica a olhar para o carro e o fio de massa que ainda nos confundia mais. Valeu-nos o Nando que veio acudir e um senhor de Ponta do Sol que já me conhecia… das avarias! Quando o pneu furou na Ponta do Sol, ele estava lá, quando avariou em Azeitona, lá estava ele. Muito prestável. Nada de muito grave, bateria amarrada, carro arrefecido e lá seguimos até Sundy.
Cheirava a cacharamba, é guarda, mas também faz de cicerone nas horas “vagas”, recebe um milhão e acha que recebe mal (o ordenado minímo são à volta de 600.000 STD). Lá fomos visitar os fornos do café… “aqui é onde torra o café. Vai assim, depois ali, lá, entra. E aqui o cacau, seca mas quando não, agora, está entregue.” Aos bichos! No lugar do cacau estava um porco e aspecto de não ter cacau há 30 anos, tal como o forno do café. Mas o tempo não passa e tudo é dito no presente. Perpétua a memória de um senhor Carneiro, que ele já não conheceu, mas que muito ouviu falar aos pais e aos avós, um “senhor que fez muito. Um grande senhor. O dono de daqui, sabe?” “Sim, já ouvi falar” “é familiar?” e que sorriso rasgado vi abrir-se. Mas não sou… o sorriso diminui, não de desapontamento mas porque algo não renasceu… e a boa disposição acompanha-nos, tal como os argumentos para lhe darmos um telemóvel. Queria comprar frutos “só no campo, é longe, já essa hora. Mais si tivesse móvel, cê ligava pa mim dizer que tava vir e eu manha trazia.” Ainda visitaram Nova Estrela, maravilharam-se com o boné de jóquei e as formações montanhosas que, roubando um mamão no Terreiro Velho, puderam apreciar. Descemos para Abade e sentiram-se em casa acampando na praia Évora. Cedinho… subiram ao morro do papagaio enquanto eu, de pé para o ar, trabalhava. Para me consolarem trouxeram-me jaca do quintal do Pico, e à tarde descemos até Maria Correia... alguém, cansado, desculpando-se da subida ao Pico, cansou o Tó (chefe da segurança do presidente da assembleia) com perguntas como “ainda falta muito?” “quando é que chegamos?” e ganhámos um passeio de barco! Numa Piroga da Lapa chegámos à Maria Correia e… uma tenda para montar! Alegria!!! Que um final de tarde a ver peixes, a “snorklar”, a apreciar a envolvência das gentes, das montanhas, do mar, dos verdes, dos ruídos, dos papagaios no voo de regresso a casa, completou. Assar linguiças. Duas, a terceira foi levada pelos cães, que desistiram de ser herbívoros. Filipe na guitarra, alguém na voz, fogueira, gente à roda, Kentucu e Porto, cães e o Gorila. Misturas de músicas pediram batuques improvisados. Bidons, garrafas, baldes. Palmas e danças. Cantares em português, Lung’ihé, forro e crioulo. Noite estrelada e ambiente… lembrar fogos de conselho, redores de fogueira. Uns em pé, outros em bancos e cadeiras toscas. Passos de dança ao som de mornas. “Espectáculo!” diria o Arnaldo. A fogueira foi-se consumindo… ficou em brasa e assaram-se umas frutas. Alguém jogou, ainda, à Bisca 61 e… a primeira noite de campo do Gorila! Acordar na areia, abrir a tenda e sentir o nascer do sol no mar, ouvi-lo nas montanhas e sentir o acordar. Lavar os dentes no rio (o médico da consulta do viajante teria algo a dizer) e “reforços! Reforços!”, saltam de todo o lado e correm para o mato, as crianças pedem-me mais músicas novas. O porco, que andava fugido, foi morto. Depois de um mergulho de uma hora, leite com chocolate e bolachas. Vemos o bicho a ser preparado e a assar na fogueira… Piri – piri demais. A fruta estava excelente e as papas de milho também, mas a canela dar-lhes-ia “aquele” toque. Ouvimos ainda o Nestor a contar o porquê de Regissida para nome do macaco dele. Inicialmente só “Regis, um lutador de boxe, forte assim” e faz o movimento muscular de força com os braços em frente ao peito, “depois caiu numa panela no fogo e ficou assim”, faltam-lhe bocados de pêlo e sobra-lhe o ar infeliz e assustado, “parece que tem sida”, ficou Regissida. E nós a pensarmos que era por ter morto um outro macaco, um rei… Fazia-se tarde e ao meio dia tínhamos de estar na Juditinha, 1hora e meia de caminho com duas subidas “de abuso” que muita fama têm… subimo-las sem parar, acompanhados por 8 cães do Munuma (o grande cantor de bulauê – uma cantoria/dança típica de cá – da noite anterior). Demos-lhe boleia até Picantê, que fica depois de Montalegre e antes de Porto Real, na descida para esta Roça viramos à esquerda aquando da curva. Só pôde subir para a carrinha depois do portão de São Joaquim “para os cães não ficarem à espera e perceberem que é para irem ter comigo a casa”.
Meio dia em ponto e estávamos na Juditinha, últimos preparativos, deixar a tralha em casa, arrumar a criançada e descer para a praia Burra. Festa do São Pedro depois de estrearmos a estrada com alguns meses. Antes o acesso era somente feito a pé. Estreita, curva e contra-curva, terra vermelha e derrapante. Sempre a apitar. Pouco espaço para estacionar e inversão de marcha apertada (a primeira manobra complicada em 9 meses), sob o olhar atento e desconfiado de uma população acacharambada, ou não fosse a única mulher branca presente e a única mulher que “corre” carro. Mas estive à altura! Acho. Apreciar a chola e a piroga do homem de vestido, levar os miúdos a conhecer a praia banana. 5 minutos a pé pela areia, passar as rochas e, o caminho por este lado é bem melhor que uma estrada em pedra cascalho com inclinação de uns 70%, como é o acesso pelo Precipício. Banho tomado, pintado (arroz com feijão) e peixe frito comido. Coco seco e criado para sobremesa mais caroço (ou “carroço”, como alguns por cá dizem e depois geram confusão à gente das revistas especialistas em viagens, que escrevem, convencidas, que a árvore com copa larga e sombra generosa se chama “carroceiro” e não caroceiro), cuja parte de fora é adorada por miúdos e a parte de dentro, a amêndoa do caroço, é degustada por mim – não sei se tal parte é segredo Lung’ihé, mas em São Tomé nunca vi nenhuma criança a comê-la. Regresso a casa com passagem por Belo Monte… julgávamos nós! E muito enfureceu o senhor a quem demos boleia, que julgou virmos directos para a cidade. Tinha deixado a mulher na festa, queria fugir dela e vá-se lá saber que mais. Ficáos a meio caminho, logo no início do perímetro da Roça. Estrada ´”boa”, com valas, calhaus salientes, morros e morrinhos de barro e um furo. Não podia ficar no meio do caminho, curvas e sem espaço para um outro carro. A placa a anunciar a Roça estava perto e foi só descer um bocadinho, aproveitando o ar que restava. Mais espaço… telefonar ao Nicolau, que andava com o nosso pneu suplente. “piriplit”, a praia Burra tem pouca rede e eu já tinha feito boa parte do caminho a pé para ter rede, eu própria, foi só continuar. Com o João e o senhor que ziguezagueando também já se tinha posto a caminho para a cidade. No cruzamento com a Roça Paciência apanhámos boleia até à Praia Burra, e o nosso amigo Sidónio também (lembrei-me agora do nome do senhor). E ele que tanto queria ir para a cidade. Na descida cruzou-se connosco o Nicolau e lá entrámos no carro… ainda bem! A quem tínhamos pedido que o avisasse do nosso furo avisou, mas não disse que estávamos no caminho de Belo Monte… Pneu trocado e suplente em pior estado, mas com algum ar. Malabarismo para não furar e chegada à cidade. Impávido e sereno aparece também o Sidónio que aos resmungos e refilanços da Guida (mulher dele próprio) continua o caminho à roda da casa e da quitanda da Juditinha (ele mora na casa à frente). Mesmo a tempo estacionamos no Centro de Dia e tomamos o nosso merecido banho. Pneu totalmente no chão. Jantar, a pé, e antes de um merecido sono reparador… atrofio em frente à Caravela, a única discoteca mais ou menos digna deste nome mas que vi funcionar apenas um par de vezes. Domingo… dia de chegadas e partidas. Dar a provar os excelentes iogurtes de leite em pó. Convenceram… Aeroporto. Ia cheio, o voo, e trouxe a Sílvia. Novo ar, novidades e a casa que não fica vazia. Tarde com cartada, aprender a jogar à Bisca 61. Confuso, não se assiste, trunfo só no final da mão, jogo cujas regras são as regras da batotice num jogo “normal”. Jantar no sorveteria. Muito boas as coxas de frango com banana e matabala pala-pála. Excelente apresentação. “Não há aulas e genti podi ficar pa mais tardi”, por isso, mesmo sendo domingo, houve festa no “Bom Sítio”, na margem direita do Rio Papagaio, logo a seguir à ponte. Sílvia a navegar na assembleia e Mafalda a dançar até a bateria do portátil acabar. Dormir…

quarta-feira, 2 de julho de 2008

E não consegui encontrar a ilustração de B.P.... do im (pontapé) possível!

Chove bué! “Ô dja!” – já há muitos dias, em forro, que não se via tal coisa, uns 15 dias... Bem que a Esperança esta manhã disse “Máfálda não ouviu? Roncou, abanou, dimais ê”, tinha trovejado e eu a dormir o sono dos anjos, “pensei qui ia chóvê essa manhã” mas não, estava sol… calor. Até que a meio da manhã… ameaçou. Parou. Desabou! Com sol, ainda, fui tomar o pequeno-almoço. A Juditinha está doente, disenteria, parece, e a quitanda está a grande confusão… “criança já não é como antis”, esta criança já é uma mulher feita (19 anos), mas cá parecem sempre mais novos, e ainda está ao cuidado da Juditinha, é criada por ela. Frutos (cá não podemos dizer fruta, fruta é fruta-pão, que serve para acompanhamento, pontada é óptima) para o pequeno-almoço, niente, nada, rien… o que vale é que me ofereceram um ananás faz dias e já está bom. Comi, com iogurte, não há leite na ilha. Iogurte, daqueles que eles cá fazem com leite em pó. Muito bom, tenho de aprender a fazer! Com o gorila no pescoço, e depois de lhe ter dado banho, fiz mais umas entrevistas… há tanta gente para ajudar… dói-me. Bastante mesmo. Sentir que não vamos chegar a todos, que os mais necessitados estão nas roças e os meios, humanos e materiais, são tão escassos. Especialmente os humanos… tão pouco qualificados ou desenrascados. Há tanto, tanto, tanto para fazer! E é tão difícil levar ajuda para as roças ou trazê-los à cidade é praticamente “impossível”, a esperança é, que, o, neste caso, a escuteira dá um pontapé no “im” do impossível!
Cá estou com o Gorila dormindo ao meu colo, tratando de burocracias e apreciando esta chuva. Como diz o Pde Manuel, Deus não me deu filhos mas macacos, então vou contar as últimas do Gorila… já está mais asseado, apesar de uns descuidos de tempos a tempos, que acontecem, ou em plena missa ou noutra ocasião, em que não posso ralhar com ele e pô-lo no chão devido ao estardalhaço que faz com a birra. Sim, faz birras e beicinhos. Quando tenho de o deixar em casa, guincha e berra como se o estivessem a matar… mas, entretanto, já descobriu o giro que é brincar às escondidas e à apanhada – não acho muita piada, especialmente quando temos de sair. Adora, também, brincar deitado comigo, pula, pendura nos braços, dá cambalhotas. A novidade é que já anda sozinho pelo quintal e pelo centro sem tentar fugir, sempre atrás de mim, com um pedra atada aos quadris para eu o ir ouvindo – já procurei sinos e… nada. Procurar em São Tomé quando lá for! Entretanto lá continuo nas aulas de Lung’ihé e hoje vou começar a dança, talvez hoje não por causa do pé - que, finalmente, já está melhor. Ontem decidi ir às irmãs… “certamente que uma é enfermeira ou médica”, lembrei-me eu ontem à tarde, depois de algumas dores a mais, e era. Lá me tratou disto como deve ser e lá me deu antibiótico, o que o médico me tinha receitado não havia na ilha!

terça-feira, 1 de julho de 2008

frio!!! que bom...

Vento e frio… mas já temos energia! Está um problema grave… ontem tivemos umas 5 horas de energia durante o dia e noite. E hoje só veio agora, 10h30. Tudo parado e comida a estragar. Está mesmo frio… repentino… a vir do mar. Tirar os calções e por umas calças. Vestir o casaco. O que apetece mesmo? Vestir uma sweat, enroscar e ficar dentro de casa a ver um filme, a comer chocolate. À falta de chocolate… e da sweat… fica-se com o casaco e vai-se para dentro de casa, enroscar, com as janelas abertas – para que o frio não fuja – e ver um episódio do Lost, o quadro no qual estava a trabalhar pode esperar, afinal de contas, o tempo não passa e este frio é raro. E passou logo a seguir… um Lost… quando saí para almoçar lá tive de me vestir “à verão” novamente. Mais notícias… o barco, pi-qui-ni-no, que chegou, conseguiu trazer gasóleo!!! Só para a EMAE… não para as gasolineiras, mas pelo menos já não ficamos com falta de energia! Entretanto… ontem fui conhecer a Praia Macaco, o complexo turístico que lá estão a construir. Feiiiiiiiiiiiiiiiiooooooooo! Mas a praia é… liiiiiiiiiiiiiiinnda!!! Areia grossa dourada, mar transparente. Mas estava “frrio”, bem… nem tanto… mas isto da aculturação tem destas coisas e lá vamos sentindo frrio. Estávamos para vir embora e… furo! Não no meu carro, no carro do engenheiro que nos levou. Espera. Espera pelo arranjo do pneu, o suplente era mínimo e a estrada jamais deixaria que com aquele a carrinha chegasse à cidade. Bem… mas mesmo assim não deixou… e “furo! furo!” quase à chegada… desta vez era o de trás. 2 furos! Que maravilha… e ainda dizem que as estradas estão em bom estado. E, assim, vamos vivendo “sem stress e nas calmas”, como diz o meu amigo Nicolau, afinal de contas já temos energia, só falta o combustível para os carros, o leite, a fruta, os legumes… ;) mas somos felizes, o jornal da tarde, os primeiros 20 minutos, dizem-nos que há outros piores. Fiquei mesmo deprimida ao ver as notícias sobre Portugal…

empaturrar é o termo correcto




Domingo. Depois das 17h30. Hora do mosquito e… tudo aberto! Luz acesa (já é noite), quarto a arejar, gorila nos meus ombros, sentada na cama a escrever. Claro que… debaixo da rede mosquiteira! – O gorila desceu dos ombros, sentou-se ao meu colo, esparramou-se por cima do teclado e do rato e complicou-me a escrita. Agora aninhou-se no meu peito e está a dar-me beijinhos no pescoço… está com sono. – Oiço Rui Veloso… fim-de-semana agitado, as semanas são calmas, os fins-de-semana de arromba. Sexta-feira à noite já é fim-de-semana… 2 festas. Inauguração da pastelaria Sto António II – a seguir ao mercado direita, direita -, um espaço multifuncional… quitanda, armazém, restaurante, petisqueira, discoteca, casa e quintal dos donos. E um chá. Um chá às 22h. Requinte na noite Principiana. Muito, muito engraçado. Em casa/quintal de uma amiga, na Rua dos Trabalhadores – rua em frente à ponte Papagaio. Decorada com lamparinas, feitas em casca de mamão, alimentadas por óleo de palma, que não deixa cheiro. Mesa de chás e café, e mesa de bolos, tostinhas, biscoitos, omelete, pasta de atum… Música, africana é claro, mas a decibéis aceitáveis. Gente simpática e conversas giras. Também em Sto António II estava um ambiente agradável e divertido. Chegou o novo casal que vai assumir a direcção do Bom-Bom, sul-africano, tal como o que está de partida, e muito simpático – o Gorila adormeceu em cima do rato… já o ajeitei . Estavam lá os dois casais e alguns dos trabalhadores do Bom-Bom, um ambiente muito giro com uma miscelânea de culturas engraçada, ainda com um filipino, o contabilista do Bom-Bom, à mistura. Lá saltei um pouco entre as duas festas e, para surpresa de todos, a energia foi-se às 23h54… ainda esperámos esperançosos, mas não voltou. Não há Gasóleo no país e, assim, em vez dos 40000 litros que costumam receber, a EMAE daqui só recebeu 30000 este mês. Foi surpresa porque, durante a semana, aquando da informação do horário da energia, na rádio, disseram que, ao sábado e domingo, a energia era até às 3h da manhã. Bem… vicissitudes. Foi tudo dormir! Sábado foi dia do baptizado da Lucy, neta da Juditinha (quem me alimenta), filha do Pená (deputado da Assembleia Legislativa do Príncipe) e da Luci (filha da Juditinha) – já pareço as informações da rádio de cá – e da festa das bodas de prata da Graça e do Nicolau. Mesma hora e com jantar. Vários pratos… devo ter jantado 7 vezes. Mais um prato de comida da terra (em Portugal, prato típico), Fungi Manguita. Bom, molho de carne com farinha de mandioca e malagueta (já nem a sinto!) - quem diria que quando vim era ultra sensível a qualquer picante?! Lá me dividi entre as duas festas e diverti-me bastante, dancei, dancei, doeu-me o pé. Conversei… africanos da velha guarda, com Creoula (a cerveja feita em Neves, no norte da ilha de São Tomé) a mais, certamente misturada com VAT 69, vinho de palma e outros. Então… “há conceitos éticos que não podem falhar”… e, naturalmente, “é o homem que avalia!” “O homem é que sabe e decide!” E eu que não tente achar que os direitos do homem e da mulher são iguais, “pois claro que não!” Umas boas gargalhadas!
A Lucy estava amorosa e a festa tinha toda a pompa e circunstância de um baptizado africano, à escala do Príncipe, pois claro. Comida e música “QB”, mulheres da casa a servir e pai da criança atento às bebidas. Graça e Nicolau felizes com a família e os amigos no convívio de um jantar salpicado com reflexões sobre África… é engraçada a gigante diferença que há entre a política africana, os problemas deste continente e os da Europa, as visões acerca dos assuntos. É bom ir compreendendo. Este jantar ajudei a preparar… tudo e todos surpreendi quando descobriram que sabia descascar e preparar, para cozinhar, banana-pão crua. Entretanto… O Gorila descobriu um novo divertimento, saltar e agarrar-se à rede mosquiteira, está doido com a brincadeira. À pouco acordou e já não fez o chichi em cima de mim!!! Depois da ronha desatou a correr e foi fazer o chichi no chão, o próximo passo é ser na rua! Depois de um sábado à noite agitado… um domingo agitado também! Mata-bicho da terra… comecei com leite e bolo, de ananás! – já não sou alérgica. Continuei com cabrito e banana pála-pála, mas ainda não foi desta que me convenceram a acompanhar com vinho de palma. E porque tinha comido “pouco” no dia anterior e ao pequeno-almoço, o almoço não foi diferente… Festa de São Pedro na Praia Abade. Missa na areia com telheiro feito e enfeitado para a ocasião. Baía… pirogas… areia… folhas de palmeira e Jesus Cristo entre nós. Chola, desta vez eu e o Gorila também fomos, bênção das pirogas e almoço… mais uns quantos pratos… polvo, bóbó, arroz, salada, molho no fogo e não posso dizer não… agora são 3 dias sem comer… o que vale é que em sobremesas não são muito ricos, mas o bolo de chocolate da Graça é uma perdição e, vá lá, é saudável, a salada de frutas das irmãs também é deliciosa!!! E não se pense que este almoço aconteceu num salão, numa sala, num restaurante ou noutro lugar similar, onde estamos habituados a realizar estes convívios, com pratos, ditos, pesados. Desengane-se… de cesto, panela, pano e apetrechos à cabeça, de carrinhas, caixas abertas, jipes (um/dois de cada, o parque automóvel de cá deve ser constituído por uns 20 veículos, não incluindo as motas que serão outras tantas, e a maioria é do estado) saiem as senhoras, com as suas iguarias, e na areia começam a estender o estaminé. De colher e prato começamos então a degustar pratos feitos no fogo, no fogão a petróleo (na ilha é muito complicado encontrar gás e portanto não se vêm fogões que necessitem deste combustível), comida que levou mais de 5 horas, nessa manhã, a preparar. E, claro, convívio africano sem música não é convívio… como cá a gente é mais pobre, poucos têm colunas ou aparelhagem que dê para movimentar para a praia (como em São Tomé tanto se via), mas não se deixa de dançar, rir e tocar. Reco-reco, maracas e djambé ajudam! Para a festa o Digo levou o seu Simão, tem mais um mês que o Gorila, mas é antisocial… morde, e foge do Gorila, não quer amizades. Bicho do mato.