quinta-feira, 29 de maio de 2008

matar mosquitos e adormecer o Gorila

Tchhhhhhh!!! Experimento, meto a mão e fico… à espera. À espera que aqueça… é o vício de anos porque no meu poliban a água não vai aquecer. Só há água fria… e lá tomo o meu duche “revigorante” antes de ir jantar. Sabe bem tirar o sal e a areia do corpo, do mergulho de manhã antes do almoço, que hoje foi molho no fogo. Um dos pratos típicos. Bom. Feito com peixe salgado (o Príncipe é conhecido pelo seu peixe salgado) e óleo de palma, acompanha arroz ou banana. Apenas não gostei do maquêquê (um legume parecido com a beringela), é amargo. Dizem que há uns que não amargam muito… Mas, dos pratos típicos provados, o que gostei mais foi moqueca de peixe.
Entretanto tive uma conversa daquelas com um africano… só gravada. Ora vejamos… o ideal é os homens terem filhos de duas ou mais mulheres diferentes, mas o ideal, mesmo, são 4 filhos, dois casais de cada mulher. Porquê??? Porque quando os filhos crescerem uns deles poderão ficar com a mania dos europeus de pôr os pais no asilo e assim os outros não vão deixar. Ah… e a mulher é como um pano branco. Um lençol branco… deve ser bem guardado e cuidado. Não se deve estar sempre a usar. Logo, o homem, que tem amor demais para dar, precisa de dar todos os dias, vai precisar de mais de um jogo de lençóis. Claro! Como é que eu não percebi logo isto…
Entretanto tive de ensinar um grupo de 130 crianças a cantar em lungu’ihé porque os professores não sabem dialecto… Ora! E eu é que sei??? Mas lá lhes ensinei… “…ôzê diá pá mino quêtê/di toca tudo nu mundo/cuné bêbê, rin da quebá á/ ê tê mino quêtê qui Sá póde fá/ê tê mino quêtê qui Sá qué fô/dine mino cê ô ô/nó bê Sá luta ô ô…”, ou seja, hoje é dia para as crianças pequenas/ de todo o mundo/comerem beberem e rirem ás gargalhadas/tem criança pequena que não o pode fazer/tem criança pequena que não o pode fazer/é também para eles/esta nossa luta”. E assim foi, depois de os ter baralhado e voltado a misturar, foi colocá-los em filas, instituir pontos para a classe que cantasse melhor, ensinar a música “manda na boquinha, manda na boquinha, manda na boquinha, já calou!”, e numa hora, depois de uma tarde de aulas, até consegui que aprendessem a letra e quase que se assemelharam a um coro. No final? Palmas e mais palmas e… beijinhos para todos! Passô ô!
(e lá se foi mais um mosquito… apanhado em flagrante delito!)
(2 dias sem chover!!! E Gorila a dormir no meu braço após um dia bem cansativo… vitima de judiarias das crianças – tão iguais em todo o mundo.)

E quando não há nada para fazer…


Encontra-se!!! E, assim, o dia de ontem, que podia ter sido desgastante pela inércia, pela falta de trabalho, pela calma, não o foi. Aproveitei-as todas… e, assim, consegui contar-vos um pouco dos primeiros 6 meses, consegui falar com cada pessoa que ia vendo, na net e por aqui, coloquei fotografias e a bandeira no quarto (agora está mais meu), acompanhei e fui acompanhada, aprendi lungu’ihé (é assim que se escreve!!! Esqueçam as formas dos posts anteriores), brinquei com o Gorila, ensaiei as crianças para o 1 de Junho, passei no Járdim, ensinei músicas novas, meti-me e deixei que se metessem comigo . Não li, nem vi filme algum. Aproveitei o ar livre, o não estar a chover, o banho de uma hora na praia, ao final da tarde, e o serão na internet sentada no banco ao pé do adro da casa do Padre. Uma luta constante com os mosquitos… mas dentro do carro seria o mesmo! E pude apreciar o céu estrelado. Maravilhei-me com os miúdos a vender o pof-pof (uma espécie de bola de Berlim mas sem a forma de bola, maior e com mais consistência – muito bom!), com a curiosidade e o à vontade daqueles que já me conhecem. Nestas andanças dei-me conta que poucos sabem o que ando a fazer por aqui… mas, mesmo assim, gostam da minha presença. Os que sabem que sou da Santa Casa apreciam ainda mais esta minha estadia. O Centro de Dia para o qual estou a fazer o levantamento das necessidades e preparar a abertura foi já inaugurado há mais de um ano e nunca funcionou… Mais uma razão para os Lungu’ihé acharem que São Tomé os esquece ou então tudo o que não presta é para aqui enviado/mandado. Espanta-os eu estar cá!!! Eles é que ainda não me conhecem… E, nas conversas, fui-me lembrando de cada idoso que conheci, de cada alguém com quem falei e da simplicidade com que vive a vida. O “está na graça de Deus” como resposta à pergunta pela saúde, e, depois, descobrir que afinal tem reumatismo, um pé aleijado e cansaço, bastante, de uma vida em trabalho árduo. Ou a boa disposição de um tão elaborado “vê, como sinha ôlha, trabalha, come, fuma. Nada”. Um “é assim só, não dá mais” com o olhar de quem olha o seu braço aleijado aceitando-o. E, ainda, o “vive, vai vivendo, bocadinho daqui, bocadinho dali” explicando como consegue viver sem reforma, sem campo, sem ajudas e sustentando 9 pessoas. A solidariedade… o não querer que os filhos e netos sofram com o trabalho como eles sofreram, e, assim, aceitam o não fazerem nada quando afinal há tanto capim para cortar.
E, agora, aproveitar outro dia que amanheceu claro… ensaiar as crianças e receber mais mimos da Fátima, a senhora que limpa o lar… outro mamão para o pequeno-almoço! A vocês? Deixo-vos este sorriso…

BON DIÁ Ô!!!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Os primeiros 6 meses foram assim...

Em Março editei o 1º (e único… agora tenho o bolgue.) número do Sarilhos da Mafalda… em S.T.P. Entre outras coisas explicava os projectos de que fazia parte, uns tive de deixar depois destes 6 meses, outros continuei… agora todos estão lá, em São Tomé, e eu longe, no Príncipe, mas não distante. Todos eles continuam no meu pensar, nas minhas orações e naquele acompanhar tão saboroso que um telefonema de cada pessoa, a cada pessoa relembra que estamos lá. Assim, aqui ficam alguns excertos…

“...as minhas semanas são cheias! Cheias de dar e receber, cheias de estar, um estar entre os mil e um pensamentos, entre as mil e uma saudades de partir e ficar que vou fintando com um coração cheio deste leve-leve que é o apreciar aquilo que tenho, aquilo que me oferecem, aquilo que Ele me convidou a viver. E o coração entre o cá e lá, fica no cá. Saboreando cada rosto castanho, cada sorriso iluminado, cada face salgada, cada beijo lambuzado, cada exclamação, cada atraso desconcertante pela pureza com que é vivido, cada imprevisto, e os meus dias são um imprevisto planeado num corre-corre entre cada gente que me pára, entre cada olhar, entre dedos que não se gastam num apertar de mãos, entre conversas que se têm e que por vezes apenas são um olhar, um ficar a saborear a pergunta “como vai saúdji?” “mais ou meno…” esperando já sempre no final o meu despachado “mais para mais ou mais para menos?” e o sorriso, os nossos sorrisos unem-se num ficar cumplicemente a saborear aqueles minutos. Depois… algo nos chama e lá seguimos.”

Nos CAEB’s (Centros de Apoio Escolar e Bibliotecas) e nos Campos de Férias: “É este o meu principal projecto… Assim, todas as manhãs acordo por volta das 5h30/6h e depois do pequeno-almoço sigo para Santo Amaro. Mais ou menos a 15 minutos de carro para norte da nossa casa. A nossa casa fica em Madre de Deus, uma zona da cidade capital de STP, que por sinal se chama S. Tomé. Como é que vou para o CAEB? Se algum deles tiver aulas no IDF às 7h da manhã e eu não tiver de levar nada de valor ou pesado para o CAEB, apanho boleia com eles até ao IDF e depois vou a pé. 45 minutos cheios de “bom dia” e encontro de pais e animadores que vêm para a cidade trabalhar, entre muita gente que já vou conhecendo deste andar. Se não, vou de carro praça. Um carro comunitário de cá… geralmente a cair aos bocados, “semi-novos”, mas com um excelente sistema de som, música é que não pode faltar! E claro, também já tenho confiança com os condutores e os momentos de espera para que o carro encha servem para grandes conversas filosóficas. De manhã vou sempre para Santo Amaro porque é o único CAEB que funciona de manhã, das 8h às 10h. A primeira hora e meia é constituída por apoio escolar e a última meia hora por actividades lúdico-pedagógicas, subordinadas ao tema do mês. Mas o trabalho vai muito mais fundo… os animadores precisam de muito acompanhamento, e as crianças nem em cima da linha conseguem escrever. Algumas, a maioria, chegam à 4ª classe sem saber distinguir letra, de texto ou palavra. O pior é que alguns animadores também não… e o civismo é tão, tão diferente do nosso. Para eles é fulcral o não entrarem calçados, mas, o escrever em livros de leitura, colocar apagadores e giz em cima das mesas ou garrafas de água molhadas já não constitui qualquer problema. Um trabalho de fundo é preciso. É tão, tão rico este trabalho. Desafiante o equilíbrio entre a aculturação e o que é necessário. Saber o que é o essencial. E depois? Explicar-lhes a importância do cumprimento dos horários e a assiduidade. Difícil quando crescem com a “hora de relógio” e a “hora santomense”, a hora de relógio é aquela que o relógio marca, a santomense é sensivelmente meia hora/uma hora a mais que essa, e só a partir dessa hora é que é atraso. E desde a escola à catequese esta questão está enraizada… mas que lhes dizer quando têm uma casa às costas? Quando se levantam às 4h e 5h da manhã para ir para o rio lavar a roupa? Quando têm de levar o almoço e o jantar à irmã que está no hospital? Quando chove torrencialmente e nem capa nem
guarda chuva têm? Equilíbrio… e, apesar de pequeno, o país é díspar nas zonas onde estão os CAEB’s. As crianças de Santana são mais educadas, mas o chicote lhes assenta mais vezes. As de Santo Amaro são mais ariscas e doces. As de Neves “levadas da breca” e muito meigas. E os animadores também diferem…, muito! As raparigas têm um grande peso na família e portanto em Santana apenas tenho uma, em Neves nenhuma e em Santo Amaro são metade, que é uma sociedade muito católica, mais aberta.
A tarde é dividida entre Neves, Santo Amaro e Santana. E é uma pena… porque sinto que vou conhecendo mais Santo Amaro que os outros… Os campos de férias são realizados nas Roças com as crianças da escola primária de lá. São muito diferentes… as crianças não dormem em campo, as casas ficam logo ao lado, e o campo para elas só funciona no primeiro período, da parte da manhã. À tarde é trabalho com os animadores. Há toda uma preparação com os animadores… pô-los a trabalhar, a organizar comigo, a ter ideias, e em campo tento que sejam eles os principais organizadores e avaliadores do seu trabalho. A burocracia fica comigo… pedir as autorizações às escolas, falar com o director, com as crianças, com a comunidade, com a Direcção Geral do Ensino. E as compras, também com eles, as ementas!!! Tudo comidas pesadas e eles comem tanto… tanto!!!”


Na Oficina de Português/Clube de Jornalismo...
“Deliram com as minhas expressões tão já Santomenses, como o “xê”, “cacaôôôô!” ou o “quê quá?!” e é muito enriquecedor pô-los a realizar notícias, ensiná-los a estar numa conferência de imprensa, encenámos uma quando lá levámos o Kalú Mendes ao clube, e tentar descodificar os textos que eles escrevem… tão non sense a estrutura. Surreal mesmo!!! E é outro mundo de crianças… 5º ano de uma escola de “elite”, mas tão iguais, com as mesmas necessidades, o precisarem do carinho na explicação e a adaptação na linguagem usada. E já me habituei a ouvir “proféssôra!!!”, mas no início era muito estranho… e assim todas as quarta-feira das 14h às 16h vou tentando passar e ensinar o meu amor pelo Português, de uma forma lúdica. Um ensino não formal que tanto me agrada e às crianças, que em grupo se sentam na biblioteca, também. Neste momento estamos a elaborar o jornal… 100% escrito pelos alunos, desde o editorial às notícias. Bem, só o Horóscopo, “do Ôbô”, é que não. É escrito pelo Stlijon Cacharamba… (eu e o João). O João, que é professor da cooperação e o meu melhor amigo nestas terras, tem sido uma ajuda importantíssima. O IDF é muito conservador… Os professores Santomenses ainda gozam do estatuto de Professor anterior ao 25 de Abril, a relação professor aluno é muito diferente da que estamos habituados, e mesmo não sendo, descontraída como sou… sempre na brincadeira... dando-lhes muita liberdade... o João lá vai pondo alguma ordem nos trabalhos e juntos lá lhes vamos levando a nossa língua, a quem já fala muito abrasileirado e comendo metade das palavras nas ideias que tenta transmitir. É engraçado notar como o Português falado em S. Tomé já tem a sua estrutura muito própria e como ainda utiliza termos e expressões de um português para nós tão longínquo, eu própria já o estou a apanhar...”
Catequese “...a surpresa… 3º ano de Crisma! Meu Deus… são maioritariamente mais velhos que eu e eu que nunca dei catequese do 7º ano para cima… e a experiência também não é muita. E eles cá são tão diferentes… Revolução total. Testes não vão haver, não, e muito menos ditar matéria, faltas vão ser marcadas a sério e os atrasos também. Música, orações e actividades para que a partilha seja natural e não forçada. Estranho, muito estranho ao início. Mas agora?! Entranhou-se e, no outro dia, não vindo um catequista houve um grupo que me veio pedir para assistir. Com todo o gosto!!!”
escuteiros...
“Que diferença entre o lenço verde e
o encarnado e branco! Já não estava habituada… e foram logo pôr-me com os caminheiros! Era a única secção a funcionar… amazing! Mas o caos… chefes que mal via e caminheiros com vontade de trabalhar… caminheiros, esses, com 28 anos para cima. Chefe Maria José pediu-me formação... Eu??? Nem faz sentido… com ela lá organizámos, lá convidámos outros chefes e lá se fez uma espécie de CIP. O desa-fio???? Preparar-lhes uma velada de armas… Um BI do dirigente, com leituras para reflectir. Que alegria, que sorrisos, que orgulho visível, foram precisos 5 anos para terem uma formação… e, assim, junto à praia o agrupamento da Sé recebeu novos chefes que agora vão recomeçar/começando o primeiro agrupamento marítimo de S. Tomé, ainda apenas nas actividades, tentar adaptar o progresso… ir caminhando agora que foi todo reestruturado. Também vou dando uma ajuda na Junta Central, mais de estar presente nas actividades nacionais e conversar, trocar ideias, demonstrar-lhes também que o trabalho cá feito é louvável e não se pode deitar tudo por terra, que não se pode desanimar…”

E depois desta viagem pelos projectos… algo que, também em Abril, foi escrito e que hoje contínua, não mais mais, mas quase, que ontem continua a fazer sentido “E assim vão sendo as minhas semanas... com mergulhos pelo meio e bolos de chocolate no companhia, passos de dança e conversas. Sem conseguir ter um dia igual ao outro e a adorar viver neste ritmo entre o leve-leve e o correr, entre o estar e o não criar dependência e na segurança e certeza que amanhã parto e vem outro para o meu lugar, receber os beijos e abraços, os mimos e os sorrisos que um dia também foram meus.
E… sem Ele, nada disto era possível… viver o essencial era impossível. Tudo é diferente... é completamente nova a vida que ele me propôs. O simples chamar das pessoas, o trato é tão diferente... até mesmo ofensiva a forma gritada com que se fala, a sua maneira… mas com Ele tudo é vivido, tudo é compreendido e a aculturação é feita, deixando para trás pressupostos tão nossos, tão pouco essenciais. O viver longe passa a ser apenas distante, fica perto. As missas num dia normal da semana, as orações espontâneas que a cada dádiva acontecem, os sorrisos e os “máfádá” escutados, o correio que, às quintas, chega, fazem despontar um sorriso, quando nem sempre apetece. Quando cá dentro o coração está pequeno pelas saudades, pelo que não se pode fazer, pelas vivências que se vão tendo, pela impotência de se fazer tão pouco, de não se poder fazer mais nesta seara que é enorme…
Mas Ele está, e enquanto Ele estiver, enquanto eu estiver Nele, tudo vale a pena. E é tão bom poder falar Nele, desde o carro praça (faz-lhes muita confusão que alguém esteja cá em voluntariado) até ao Bom Dia/Tarde Senhor nos CAEB’s, passando por aqueles que comigo se vão cruzando e, sabendo das dificuldades, como resposta à pergunta “porque não regressas?” ouvem que Ele está comigo e que se Ele me quer por cá, Ele lá sabe o que está a fazer. E é este enamoramento que me faz acordar todos os dias de manhã cheia de energia e trabalhar na sua seara de forma incessante. Cansada??? Nada!
Feliz! Muito feliz!!! Só assim faz sentido…”
e só assim tem sentido ter continuado nestas ilhas!

terça-feira, 27 de maio de 2008

Um dia em Santo António

E adivinhem lá que tempo esteve hoje??? Na… só choveu à tarde!!! (na altura em que eu pensava ir dar um mergulho…) Bem… mas hoje o dia começou bem cedinho e com sol. Céu azul, não o azul límpido de cascais, mas com os morros fascinantemente recortados na paisagem. Às 7h já estava a caminho do aeroporto para deixar o Nicolau que iria a São Tomé para conhecer a Santa Casa e ter formação… iria porque não foi. Os controladores aéreos do Gabão, de onde vinha o avião que seguiria para São Tomé, estão em greve. Esteve lá a manhã inteira e por volta das 13h lá lhes deram ordem de soltura e regressou a Santo António… má altura… altura da sesta do Gorila. Claro que esteve rabugento a tarde toda! (agora está a dormir no meu ombro) De noite já sabe que dorme no seu cantinho, debaixo da minha escrivaninha, mas à tarde, enquanto eu vejo um filme, gosta, não dispensa, a sesta aninhado em mim. Hábitos… E a manhã tinha sido agitada… a loucura!!! Primeiro, no caminho para o aeroporto, eu a conduzir, a carrinha atingiu os 50 km/h e pus a 4ª – o Nicolau ia tendo um ataque cardíaco… é a única pessoa que conheço capaz de fazer trajectos em 1ª, e com ele o carro vai até aos 10 km/h! À volta, fiquei na escola a ensinar aos mino quetê as músicas para o primô zunho. Hino Nacional cantado (cantam todos os dias antes de começarem o dia de aulas), beijinhos dados e fui buscar o Gorila para tomar o pequeno-almoço. A diversão… estou a educá-lo. Claro que não o posso deixar roubar comida do prato, e, além da palmada, há que falar com o piqueno… é a diversão para a Juditinha e para a Piqui (uma rapariga amorosa que lá trabalha), eles que nem dão nome aos animais (mas à pouco baptizei o gato deles de cão!) quanto mais falar “parecendo que é com gente”. Mata bicho tomado e vim ver se já tinha o mail com o formulário para poder inserir os dados das entrevista. Niente… e… je ne vá pas travalier. Fiquei na converseta na net (tarefa complicada… com o sol a reflectir no ecrã) e… mais crianças! Desta vez o chamariz foi o Gorila… “Olha macaquinho lá” “Olha, olho di macaquinho” “Vê pê di mácáquinho…” “Eli comi?” “Não, mácáquinho não comi, pica” “Eli tem denti?” “Macaquinho está na maderra deli”, maderra é madeira/árvore, e a madeira era o meu pescoço… Grande algazarra!... até a bateria ter ido, e eu também. Directa para escola primária ensaiar outra “fornada” de crianças. Almoço bastante divertido com um dos únicos 5 europeus da ilha, o João, Jean, da Ponta do Sol. Francês, português, inglês, lung’ihé e “pretoguês”, uma miscelânia bastante engraçada. Banho ao Gorila… o primeiro, e sesta. Interrompida. Ida ao aeroporto e passagem por Porto Real para acompanhar o Dunga e os avós. A tarde finalizou com lanche no Caravela, a fazer lembrar o Jasmim de São Tomé… “sumos naturais?” “já não temos” “búzio?” “de momento não” ” gingumba? Também não, acabou” “outro aperitivo?” “acabou”… e foi assim! Agora, depois de jantar na juditinha, escreve-se e ouve-se a RFM. Maravilhas da tecnologia!!! Ah!!!… e porque é que gosto tanto disto? Só aqui é que dá para ir à casa de banho, no gabinete da assembleia regional (a única por perto) e deixar o portátil na rua, ligado e nada lhe acontecer. Mas o melhor? Ver alguém a passear cabras por uma “trela”. Além de andar com o Gorila ao pescoço e ninguém se importar…


segunda-feira, 26 de maio de 2008

momentos deliciosos... na juditinha

E depois da aula de lung'ihé lá fui até à Juditinha jantar. Sopinha, e uma banana madura para a nova aquisição (que durante a aula não se calou, por causa da fome, e agora dorme no meu ombro - fazendo-me escrever de uma maneira bastante esquisita). Na televisão uma peça de teatro educativa sobre o paludismo. Tudo vidrado. E... "olha lá... mosquito grande!!!" "é mosquito ou pessoa?" "mosquito!" mas como a Judite não ficou convencida com tal resposta da Eustáquia (gémea) perguntou-me a mim, e antes que eu pudesse responder, "claro que é pessoa", e lá o Fofo, do alto da sua complacência de 9 anos, exterminou a ilusão de, pelo menos, uma criança de 6...
Boá notxi, té pemiã Des quizé (boa noite, até amanhã se Deus quiser). Passô o - afinal é assim que se escreve - .

Desterro? Foi por um triz...

Perita em matar mosquitos… e eles em morder-me!!! Outro dia de chuva ligada, mas apenas desde as 11h45. Porquê esta precisão??? Porque foi o momento em que cheguei à cidade depois de mais uma aventura.
De manhã cedinho fui ensaiar as crianças da escola primária para o 1º de Junho, nestas ilhas o dia é comemorado com inúmeras festas nas escolas . Pidi cuê Sá? Pidi pimiô zunho dia mino quêtê (porque é isso? Porque primeiro de Junho é dia da criança pequena). Será um domingo mas todas as crianças irão à escola para a festa. Depois contarei! Depois do ensaio, e tomar o pequeno-almoço, antes de sair para a Roça, tive tempo de pôr ao “sol” (entre aspas porque aqui o sol é mesmo “sol de pouca dura”) os lençóis da cama, o toalhão de banho e o pijama que tinha deixado de molho antes de sair. Deu tempo para isso, e ainda sobrou, porque o Chiquinho (um dos velhinhos que tinha de entrevistar) apareceu lá na Juditinha para eu lhe fazer a entrevista. Por vezes é bom o trabalho vir até nós… Que dentes! Só visto que contando não vão acreditar. Mas mais um bem disposto e orgulhoso… orgulhoso do seu filho de 3 anos! O senhor tem 68 anos e anda como Deus quer… O resto da prole tem 7, 12 e 14 anos. Claro que estes são os filhos que teve com a actual mulher. Depois da lida da casa (uma autêntica fada do lar) lá fui para a Roça, para azeitona, e nada melhor que ver se vem avião, ou não, para poder passar e entrevistar o João Baião. Lá passei a pista do aeroporto (já vai sendo um hábito) e falei com o vulgo de João Fernandes. Na volta… nem pio! O carro não quis pegar, nem de empurrão! Lá veio um jipe que o puxou… a bateria deu mesmo o berro e a chuva começou a cair, à moda das ilhas, que é como quem diz, torrencialmente. Que sina… piorar? Talvez… bateria nova tem de vir de São Tomé. Que maravilha… as comunicações estão más e fracas e agora fico sem carro… mas, claro que “ao menino e ao borracho mete Deus a mão por baixo” e o mecânico emprestou uma bateria (de um outro carro que está a arranjar, pormenores… quando precisar liga) e, assim, à tarde lá fomos até Paciência entrevistar mais uns velhinhos. Agora vou para a primeira aula de Lung’ ihé, o dialecto aqui do príncipe…
Pássou (Xauê)! – não sei se é assim que se escreve…

domingo, 25 de maio de 2008

A minha morada!!!

Ora bem... pelo meos até 15 de Junho a minha morada é... Mafalda Velez, Santa Casa da Misericórdia, Ilha do Príncipe, República Democrática de São Tomé e Príncipe. Sublinhem bem o Ilha do Príncipe. ;) Ah... e mandem rápido que o correio para aqui demora...

3 razões para celebrar

Foi assim que o Padre Manuel iniciou a sua homilia na missa das 10h de hoje. Missa longa… ou não, para tudo o que nela se celebrou. Assim… antes da liturgia da palavra assistimos às promessas dos escuteiros, desde Lobitos a Dirigentes. Ritual distinto do nosso e vivido com enorme cerimónia e pompa, como STP nos habitua em tudo o que é religioso.

Naturalmente que no início fomos brindados com umas “breves” palavras do chefe de agrupamento (ritual sem discurso introdutório não é ritual) (e a nova aquisição acordou e reclama atenção… além de querer escrever!), depois tudo seguiu o seu tramite… chamada corrida dos elementos, formatura em duas colunas e posicionamento das bandeiras (eles cá fazem sobre a bandeira nacional, a do bureau e a do grupo, alcateia ou clã. Os chefes utilizam somente a nacional e a do bureau e a bíblia), saudação e fórmula da promessa (que é semelhante à nossa). E a nova aquisição começa a ficar irrequieta… é o resultado de ter dormitado ao pequeno-almoço, e claro que nesse estado de sonolência o Pde Manuel não viu qualquer problema na sua participação na missa. Promessas feitas e lá a missa seguiu o seu curso… antes da comunhão, apresentação do Santíssimo e procissão à volta da (zdrio wsw – ditos da nova aquisição) igreja, pelos altares.

Era o segundo motivo para celebrar. A festa do Corpo de Deus. Assim, por cá, as populações das roças juntam-se e constroem um altar onde depositam oferendas que depois o padre se encarrega de distribuir pelos mais carenciados. O Santíssimo sai da igreja, escoltado pela irmandade do Sagrado Coração, abençoando cada comunidade no seu altar, estes estão escoltados pelos escuteiros. Depois desta pequena procissão, o Santíssimo regressa e a missa segue o seu ritual… a comunhão. E a nova aquisição já estava a ficar com fome e ainda mais irrequieta, lá vim para fora da igreja assistir ao final da missa de duas horas. Regresso a casa em passo rápido pois a chuva começava a ameaçar e a nova aquisição a “esfomear”, e claro, depois de uma banana madura e de um amanhecer solarengo… chuva ao almoço.
Para não me habituar mal… (e lá se foi um mosquito…) Ah… falta a 3ª celebração… o dia de África!!! Mas por cá não se viram festejos… No entanto, eu e a nova aquisição, em tributo a este continente, de onde ela é proveniente e que a mim tão bem me adoptou, dormimos a sesta ao som do filme “Nhá Fala”! E agora? Vamo-nos aprontar para um jantar dos escuteiros na casa do Sr. Padre!

sábado, 24 de maio de 2008

Mafalda Velez (vulgo Burro de Carga)



Eu, 5 crianças e um macaco na praia...

Noite de chuva constante, ligada desde as 13 horas… e frio!!! Bastante. Sem cobertor, valeu-me a toalha de praia que a minha mãe me enviou… a nova aquisição dormiu a noite inteira e devagar foi despertando quando, às 6h e pouco, decidi levantar-me e abrir as janelas. Radiante! Céu azul e sol, apesar do frio… ele passeou-se, cheirou, espreguiçou-se e lá se veio aninhar por cima de mim na almofada. Ok… já chega… Almofada não é lugar para macaco! E com ele pendurado lá arrumei o quarto. Excelente dia para a praia, uma raridade… Tenho de aproveitar!!! E, assim, depois de mata bichar (uma omolete com queijo e chouriço – “sim, hoje a Mafalda vai comer bem”) peguei na criançada da Juditinha e, com a nova aquisição, seguimos para a praia. Ups… esqueci-me de um momento alto na manhã!!! Como o Nicolau levou a carrinha para lavar… eu fui-me pôr, com a criançada, a lavar roupa, a minha roupa da semana.” Omo” que é “Klim” comprado (cada pacote a 3000 dobras, gastei dois), uma escova emprestada e água no tanque… pôr de molho, mexer, enxaguar e passar por água limpa. Colocar a secar no muro, à moda da terra, quer dizer, um upgrade, pois costuma ser no chão, e o Nicolau chegou. Praia!!! Que excitação (ou a continuação… em casa já tinha sido uma festa, com banho no tanque, esfregar roupa, molhar o outro…)!... as ondas… amostras! Mas que são o suficiente para a criançada trepar por mim acima, puxarem, quererem avançar mais, e, mais ainda ,ferrarem pernas e braços em mim. Duas de 5 anos – gémeas -, uma de um e uma de 6, ah… e o Fofo, de 9, que já não trepa, e como único homem no meio de tantas mulheres e um macaco, lá se manteve no seu canto, brincando com os óculos, não fosse sobrar para o lado dele… E, assim, entre gritos, gargalhadas, guinchos, fotografias, mergulhos e tentativas de “natacinha” chegou a uma da tarde, hora do regresso para o almoço.
No caminho os bebés (leia-se Luci e macaco – que raio… vejam se sugerem um nome… arrisca-se a ficar esperteza!) adormeceram e, à chegada, com muito apetite lá comeram o rancho à moda da Terra (a nova aquisição comeu um bocadinho do meu, no final, e como prato principal, uma banana madura). A sábado tão familiar não podia faltar um filme à tarde, e, claro, acompanhado da sesta do bebé cá de casa, aninhado! Sim… foi um daqueles filmes de sábado à tarde… Agora está na hora de apanhar a roupa, que assim estendida ficou direitinha… não vai ser preciso engomar!!! Fechar janelas… hora do mosquito! Daqui a “um bocadinho”… Jantar… à Juditinha, é claro!!!

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A nova "aquisição"...

Depois de uma manhã, sem chuva, onde conseguimos percorrer a cidade e finalizar as entrevistas desta zona, fui almoçar à Juditinha, como é hábito. Estava cheia!!! E por lá encontrei o João, o belga dono do turismo de habitação Ponta do Sol, onde o pneu do carro se foi. Alguns dedos de conversa e… Casa para uma leitura merecida. Trinta minutos no descanso e já estava cansada de estar parada neste meu “yellow submarine” (a ver se lhe tiro umas fotografias…). Fui até à internet ver se encontrava alguém… entre conversas de msn, notícias de lá e de cá, São Tomé está com uma crise política, apareceu o Dunga dizendo que me arranjou um macaquinho… que maravilha! Desligar o msn, fechar as janelas do carro (tinha começado a chover bué) e ir até casa deixar o computador para ir buscar o macaquinho… entretanto… o susto! Depois de estacionar o carro, em frente ao yellow submarine, vento de abanar o carro e levantar voo, vindo do mar, e chuva… “dimás”! Resultado??? Encharcada até aos ossos!!! Mudar de roupa… secar o cabelo… ver que a energia se tinha ido, e sair para ir buscar o macaquinho. “Hum… que estranha… chê piquena cê é brancaê!!!” Pois é… deram-me um macaquinho racista… olhar de soslaio fitando a minha perna e, claro, nada melhor que uma dentada! Claro que apanhou… ofendido, ainda, virou-me costas e pelo canto do olho ia espreitando… lá o puxei para o colo e… confortado adormeceu.
Agora falta um nome… aceitam-se sugestões!!! Cedo, rápido… que o piqueno não pode ficar sem nome muito tempo!!!
(e hoje a energia está complicada… foi-se outra vez!!!)
(raios que o sujeito não pára de dormir… está aqui aninhado.)


quinta-feira, 22 de maio de 2008

O defeito dos "crocs"...


Dizia há dias que chuva já tinha visto por estes lados mas nada como em São Tomé… fraquinha, molha parvos. E molhou… aqui a je. 4 dias de trabalho, 3 dias à chuva a apanhar molhas constantes, vivam os “crocs”!!! Contudo os “crocs” têm um grande defeito… escorregam bué… e, ao fim de três dias de equilíbrio, de muitos sustos, especialmente ao Nicolau, que já diz que eu sou tropa, lá dei hoje a minha primeira queda… mas muito fraquinha. Não precisei de avião para ir para São Tomé, nem ir ao hospital (como está sempre o Nicolau a prever cada vez que me vê andar à minha velocidade), não precisei de nada, e logo a seguir pus-me em pé em cima de umas raízes de caroceiro (ou carroceiro, como por cá também se diz) e mais um susto ao Nicolau e à dona Cristina, a quem estava a fazer a entrevista, que me obrigou a descer dali pois “a dona é como minha filha, desci, desci qui agora nim há avião” e lá fui novamente para a chuva…

Momentos... deliciosos!


As crianças são naturalmente curiosas… e naturalmente gostam de se meter, e então se lhes dermos abertura… são deliciosas!!! Se em São Tomé, onde existem muitos brancos, a minha brancura chamava a atenção, por estas bandas ainda mais… crianças com medo! Bem, mas há um miúdo giro, mesmo, em Porto Real, um bobo (acho) de cabelo ruivo que se aproxima imenso de mim, mas assim que o olho e me dirijo a ele agarra-se a quem estiver ao pé e desata, não em choro, mas a fazer todos os tipos de beicinhos que existem… amoroso. Mas será que ele não percebe também que eu é que teria razões para me assustar? Um bobo de cabelo ruivo??? Eu, pelo menos sou uma branca “normal”.
As minhas idas à internet também despoletam uma curiosidade imensa… não pela navegação em si (várias pessoas costumam ir para lá de portátil), mas porque fico dentro da carrinha e eles têm de pular para ver o que se passa, e então surgem as mais estranhas especulações… Ontem um grupo de crianças não teve aulas e por lá apareceu. Pula, espreita, trepa, sorri, chama branca e aprende o meu nome… e a páginas tantas um gaiato diz:
-Tem bebé!!! Chê piquena, tem bêbê…
E uma menina com ar de senhora responde:
-não tem bêbê não…
- tem sim, vê lá na saca…
-quê!!! não podi não sinão bêbê morri!
- Vê lá bêbê
- não tem bêbê não!
Mas o gaiato não desiste…
- então istá na barriga!
E eu lá lhe nego a minha gravidez… mas ele não se convenceu…
-não? Você não tem bêbê não?
Acho que não o convenci… Mas a energia foi e eu também fui… e entre gargalhadas e tentativas de acertar no meu nome, desde Malvada (“não é malvada não, chê, é Malfáda!”) a Máfáda, sem passarem perto de Mafalda também lá seguiram… e ainda ouvi… “Tem bêbê sim…”.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

???????????????????????????????????


Bem… já me esquecia de contar um episódio… daqueles que são tipicamente, não T.I.A., mas T.I.S.T.P. (This is São Tomé e Príncipe)… íamos nas descobertas das roças quando paramos na Ponta do Sol e, enquanto estávamos naquele primeiro olhar em volta, psssssssssssssssssssss… qualquer coisa no pipo do pneu não estava a funcionar bem e lá se foi o ar, apesar das tentativas inglórias de o tentar reter. E num ápice lá ficámos com o pneu vazio. Toca a tirar o pneu sobresselente, desapertar e trocar… mas como??? Onde anda o macaco e a chave??? Claro… podiam roubar e o Nicolau guardou-os em casa. Mas o pneu solto na bagageira não tem qualquer problema… O que vale é que a Ponta do Sol é uma casa de turismo de habitação, “A Casa do João”, uma casa comprada e recuperada por um Belga que se apaixonou pelo Príncipe, depois das suas voltas por África. Bem… mas a chave era pequena demais, o jipe dele é um vitara… mais outra mais valia? Os habitantes, pois claro!!! E, assim, um senhor muito amável lá foi em busca de umas chaves, da casa de alguém, para trazer uma colecção de chaves para desapertar o pneu. Claro que uma servia e, assim, mudámos o pneu mesmo antes da chegada do Nicolau. Lavadas as mãos íamos de saída quando… “chê! Kê kuá!?” “é para não emprenhar!”

... (palavras para quê?) ...


Furnas


na... não volto não! (Bom-Bom)


Nossa Senhora...


O descanso também é preciso e merecido…

O descanso também é preciso e merecido… e, assim, antes de embarcarem terça de manhã, houve tempo para uma tarde no Bom-Bom, no bem-bom, e outra a dar a volta à ilha de barco. Que tardes e inícios de noite…

E para quem pense que o Príncipe é pequenino… 5 horas!!! Apesar de alguém nos ter convencido que seriam apenas duas… E mais do que pelas praias a volta à ilha vale pelas inúmeras formações geológicas que nos vão maravilhando por todo o caminho, mas claro que um mergulho na mítica praia banana, cujo azul transparente da água é admirável, é tentador e apazigua… depois foi o constante deslumbramento com as furnas, as águas, os peixes, as formações geológicas… o anoitecer ainda no barco… e a chegada á Baía de Santo António, já de noite, com uma prometida tempestade. Relâmpagos ao longe e algumas estrelas ainda a iluminar. Desembarque, pé em casa e queda de água.
Entretanto na tarde do bom-bom também tivemos sorte com o tempo… Lindíssimo e bastante enquadrado na paisagem… apenas o jantar desiludiu. E o almoço!!! 15h… “já fechámos a cozinha, vamos ver o que há, o que podemos fazer” e mesmo sem pedirmos já em grandes preparações iam… ainda fomos a tempo e o improviso de omolete com chouriço e queijo até não saiu mal… mas o que saiu foi uma omolete sem nada e umas sanduíches de pão frito com queijo e chouriço. No entanto estava muito bom… e a fome que tínhamos ajudou! Entre banhos e snorkling vimos o pôr-do-sol e fomos ficando… apreciando, embebidos neste balançar das ilhas ficámos para um jantar no pontão do ilhéu. Magnífico! Não o jantar, mas o ambiente… a ementa? Boa, mas fraquinha… fogem dos produtos regionais e dos pratos típicos. Nada melhor que os pratos da Dona Judite (hoje o almoço foi moqueca de peixe – excelente!), de quem falarei mais tarde… Agora lá vou eu jantar… à juditinha, pois claro!!!

Nhá Tui, Nicolau e Eu


E o trabalho começa...


Príncipe… que momentos… rebobino as fotografias destes últimos dias e recordo aquelas pessoas. Ontem (19) foi o primeiro dia de entrevistas… entrevistar idosos, possíveis utentes do Centro de Dia da Santa Ké Nón no Príncipe. Alguma expectativa e receio, desvanecido com um “yé, yé, yé” com as crianças de Porto Real. Iríamos começar lá e subir… mas os idosos tinham ido para o mato. Estavam as crianças do “Járdim”… o coça a cabeça, o esconde atrás do dedo e das mãos pequeninas que deixam antever um sorriso rasgado à espera de ser conquistado com uma música, um jogo ou um simples estender de mão e… sorrisos de Deus despontam. Dão-me força, dão-nos força para não temer águas ainda não sulcadas. Lá seguimos, ouvindo atrás de nós o “yé, yé, yé” , e, em Montalegre também os idosos tinham ido para o mato. Descemos a recta de Porto Real e… conversando com a Nhá Tui fico a saber que é Cabo Verdiana. Muito alegre e orgulhosa dos seus filhos e netos levanta-se, e, ao vir do quarto, traz na mão dois tesouros, duas fotografias. A recordação da “patente” e a recordação do Crisma, “Chê!!! É o Dédé e o Sr. Eduardo!!!” que alegria!!! Nhá Tui é a avó de um dos animadores do CAEB de Santo Amaro e mãe do sacristão daquela paróquia. Que maravilha… ligo ao Dédé e… tão bom ouvi-lo… tão bom ouvi-lo e poder dizer-lhe que estava em casa da avó! Mais sorrisos rasgados e sigo para casa da mãe da Ir. Fernanda, tão parecidas… e torno a sentir-me em casa… e assim continuei o resto do dia. Percorrendo casas de idosos, casas tratadas e cuidadas, apesar da pobreza e das dificuldades. Pessimistas? Nada. “Tá a lutar…” dizia-me, hoje, um senhor deitado numa cama há três dias. Não tinha todos os seus dados… “sou pescador”, “de angolares”, e o passado e o presente entrelaçam-se como se fossem um só para esquecer este abandono. O abandono de uma filha que mora ao lado, perto mesmo, numa outra casa com alguns quartos, quintal arranjado e uma pequena quitanda… o dever é só mesmo alimentar, lá deixar de manhã o matabicho, o almoço e o jantar ao pai. Passa o dia e outro vem, recolhe e deixa, e esquece, esquecendo também que os filhos a vêem e que a imitam, que a imitarão…

terça-feira, 20 de maio de 2008

mais que a festa em Porto Real...



E como não só de pão vive o homem… sábado foi dia mariano em Santo António (não do Estoril mas do Príncipe). Procissão da cidade até Porto Real… perdemo-la… horários errados. Apanhámo-la no caminho e sentimos, presenciámos “o sacrifico que faz bem a nós, que damos mais valor à vida” e no mesmo espírito de quem quer venerar Nossa Senhora de Fátima reunimo-nos na capelinha de Porto Real engalanada para a festa. Celebração de 2 horas com Deixa… tão diferente de São Tomé… mais calmo, mais pequeno… menos quente. Mas, ainda assim, sorrisos maravilhosos, simples e amigos, curiosos pela presença de brancos (aqui não é comum…). E, radiantes! Radiantes aqueles que pela primeira vez puderam participar em pleno no banquete que Deus nos deixou.Depois da festa, e como a chuva permitiu, houve um “ambientezinho” (e lá se foi um mosquito…) até ao sol se pôr. Dança, bué! E ainda encontrei o Dunga, que felicidade, alguém que me conhece de vista de Santo Amaro e que conhece tantos “alguéns” que são meus amigos… Afinal, estou em casa. Festas na Chica (uma macaca), numa papagaia que está a aprender a falar, conversas e… Montalegre. Que vista sobre a cidade!!! Banana madura, ovos e… regresso a casa. Mas com tempo para percorrer algumas roças e praias (Évora, Campanha, Abade, Terreiro Velho, Nova Estrela, Bela vista…) e perceber o quão pequeno e tão grande é afinal o Príncipe… longe… afinal, para o Carlinhos e para o Dimas, 20 km é “dimás”, “longe mesmo” (fazer cascais - lisboa??? Está tudo maluco!!!).

O céu visto do meu quarto...


17 de Maio de 2008, 7h30

Começar a acordar depois da rave do vizinho, na qual por proximidade participei… Não há energia. Novidade??? Aqui no Príncipe é a primeira vez. Tudo silencioso. Recebo a visita de um lagarto, pelos vistos dormiu comigo. Volta para trás do armário e eu vou lavar os dentes. Ronho e tento matar mais um mosquito… Tarefa inglória.8h00… Um motor forte a ligar… Gerador??? Certamente. O da EMAE… e lá se acende a luz verde do transformador e oiço o barulho da impressora a ligar. Já temos energia!!!

Aterragem...

Diferente??? Sem dúvida… mas ainda bem que escrevo este post no fim do primeiro dia… Um dia inteiro. Noite, e no meu quarto no lar (quem diria que um dia iria viver num lar da Santa Casa… nunca estamos livres, mas com 24 anos?!) após uma tarde de esforço para o tornar mais meu… e… consegui!!! Entretanto saboreio um Ritter Sport enviado amorosamente pela Tia Maria Luísa. Oiço o “Não Baza” e outros sucessos musicais gentilmente partilhados pelo vizinho do lado que, ao que parece, tem uma discoteca-bar-residencial, que julguei fechada, embargada, a “cair aos bocados”, das vezes que em frente passei durante o dia de ontem e de hoje. Redondamente enganada… e, hoje, por volta das 17h30… “atarracha comigo”, é claro!!!Assim lá entendi que não é só este estar e ser que faz de São Tomé e do Príncipe um só São Tomé e Príncipe… Já ontem me havia recordado do tão digno “doce, doce” quando, estando na casa da cooperação, o Dimas e o Carlinhos passam e pedem “rebuçado, rebuçado”, pronto… mais selectos! De manhã muitos “Amiga! Amiga!” e, claro, uma esteira que custa 50 contos passou para 60 descendo logo a seguir pelo meu olhar e resmungo de me estarem a enganar só por ser branca… nada de admirar que esta demora me tenha valido um “apaixonado”, que perdeu logo pontos ao dizer que esteve em Portugal e por lá teve uma filha com uma branca… e pronto… não sou especial! Já não vou querer nada com ele apesar de ele me jurar a pés juntos que o sou e sou diferente, e é claro que ele não diz o mesmo a qualquer branca que passe… pouco convincente... não conseguiu o meu número de móvel.Mas a viagem??? Surreal… espaço para as pernas? Esqueçam… altitude? Sempre a ver o mar de perto, bem pertinho que até os bancos de areia eram facilmente distinguíveis. Mas o caricato mesmo foi chegarmos 30 minutos depois da hora aconselhada para o chek-in e ninguém… Alguém nos garantiu, apesar do deserto, que era ali, no aeroporto, no lugar normal para os chek-ins. Não convenceu… e lá me lembrei do aeroporto velho, para onde seguimos e onde vimos agitação. Chek-in feito e avioneta grande à nossa espera. Duh… é claro que não é aquela!!! É a do lado! Aquela que o piloto está a empurrar a hélice. Entrámos, sem antes não deixar de notar que o porão era no bico da avioneta , e levantámos voo. Excelentes fotografias, que espero conseguir carregar para aqui. Assim, a bombordo deixámos São Tomé e a Estibordo encontrámos o Príncipe… Lindíssimo!!! Aterrámos na gravilha e encontrámos o Nicolau. Muito simpático (hoje cortou o cabelo, chegou atrasado e esqueceu-se… hábitos intrínsecos…). Limpeza do quarto e conhecer a Dona Judite, dona do quiosque Beira Mar, onde passarei a realizar as minhas refeições. Excelente arroz (certamente o da ajuda do Japão), peixe grelhado e, claro, ao almoço também com arroz pintado. Cozinha bem!!! Ah… e fantástico!!! O chefe dos escuteiros instalou uma antena wireless e já me deu o IP autorizado… amanhã tento actualizar o blogue. Entretanto… o restante parou no tempo, e é uma delícia saboreá-lo… não julgando…(pum!!! Matei o primeiro mosquito deste quarto!!!)PS: esqueci-me do fantástico “Bóleiiiia”, cá também se usa muito! ;)

Bom diáô Príncipe!!!


Xauê S. Tomé...


Nunca esquecer de levar...


A caminho do Príncipe...


sábado, 17 de maio de 2008

e enquanto não consigo "uploadar" um filme...

Bem… e quando me estava a preparar para escrever um post, para ocupar o tempo, voltou a energia!!! Desta vez ficámos um tempo considerável sem ela… 10 minutos Santomenses. Isto porque estou no Companhia, no centro da cidade, o meu poiso para vir à net e onde ando a apanhar uma overdose de civilização… Algo curável com o mês que se avizinha… no Príncipe (quem me ouvir falar/ver escrever pensa que vou para o desterro… mas não… agora é que vou mesmo para o paraíso!!!). Se fosse em casa seriam horas… Santomenses, é claro! Bem… e então decidi escrever, também, porque a chuva de cá merece um post. Assim que começa a chover e a trovejar a energia vai-se… Depois cai em enxurrada e quem for apanhado desprevenido, numa questão de segundos, fica que nem um pinto… Depois, estando em casa, é a correria de fechar as portadas – as janelas, maioritariamente, são apenas de rede – antes que a casa inunde. Se não estamos em casa… acreditar e pensar que existe uma alma caridosa em casa que se lembrará de as fechar… e, num ápice, tudo fica alagado… é ouvir o trovejar e o ribombar da chuva nos carros, nos telhados de zinco… espreitar a rua e ver contínuos fios de água a cair do céu. Pessoas encharcadas que continuam o seu caminho… mais molhadas não podem ficar. Panos que protegem e, nos caminhos, as folhas de bananeira a improvisar guarda-chuvas. E assim a cidade vai esmorecendo… não se sai de casa, mas sai-se do trabalho e da escola para casa! Claroê!!!

(e quando é mesmo preciso sair para voltar, sem ser para casa, nada mais prático que “boa sorte” e papel higiénico para limpar os pés…)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Será que é desta???

E como bué coisas em São Tomé, também este blogue nasceu leve-levemente… Ou era a fotografia que não passava… ou a net que se ia… ou o post que se perdeu… Mas hoje, dia 13 de Maio, acredito que vou conseguir inaugurar finalmente o “chê!... Kê Kuá???!!!”.


Mais de 7 meses… e??? Parece que foi ontem!!! O tempo passa bala – bala e, especialmente hoje, estou muito acelerada… Quinta-feira apanho o avião para o Príncipe (isto se não decidirem cancelar novamente o voo) e estou expectante…


(ora bem… corte de energia… o que vale é que decidi escrever isto no Word… e, portanto, depois é só copy paste e “tanã!”, já está!!!)


E já voltou… e voltando também aos 7 meses…


Indescritíveis… uma vida, muitas vidas de gente como eu que se cruzam e entrelaçam em mim e que agora ao me verem partir para a outra ilha irmã fazem as lágrimas resvalar. E é tão bonita esta sensação de já sermos “guê mun” (minha gente), o naturalmente cumprimentar com “Bom dja! Comoê?” (Bom dia! Tudo bem? ) e ir falando mais devagar, aos poucos abandonar o bala – bala e viver o leve – leve, saboreá-lo, acrescentar “ê” no fim das palavras/frases e acompanhar… Que maravilhoso este ritmo das ilhas e o sentir que aqui poderia ser cascais… mas faltam as ondas e o cheiro a mar (as saudades…).


Bem… resumindo um pouco estes 7 meses… “atende o telele” e “eu não sou di fero não sou banana por isso eu paro” têm sido uma importante banda sonora. Enquanto vivia nos leigos não havia manhã que não acordasse a ouvir estas músicas… era o vizinho na diagonal traseira do lado direito. Curioso… nós racionávamos ao máximo a utilização do gerador… ele estava sempre com ele ligado, e que barulheira!!! Bem… mas sem estes momentos a experiência nunca seria a mesma, e tantos outros… Os melhores??? Os vividos nos CAEB’s e nos Campos de Férias, nos escuteiros e na catequese, na oficina de Português/Clube de jornalismo, na rua, nos carro-praça… Em tantos lugares!!! Agora os Leigos ficaram… e a Santa Casa começou, o Príncipe espera-me e os seus velhinhos também. Doeu… mas também deu certezas, a certeza que sou e são “guê mun”! Nesses tempos escrevi o “Sarilhos da Mafalda em S.T.P.” vou tentar aqui publicá-lo e agora… daqui do meu poiso no “Café&Companhia” prometo que vou ser mais bala – bala nas notícias que vou dando. Ops… será que o Príncipe também tem um poiso como este?!


Fiquem com Deçuê!!!


(e lá se foi a energia…)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Realmente o primeiro!!!

Chê!!! E foi mesmo desta... e também encontrei o primeiro!!! Aqui fica...

Bom Dja!!! Comoê??? Leve-leve pois claro... Mais ou menos também seria uma boa resposta... Mas comigo continua a ser muito bala-bala! Apesar de... estar a falar mais devagar, não andar tão depressa, já dizer "ainda...", falar com "ês" no fim e apreciar cada vez mais o acompanhar. E, neste ritmo das ilhas já se passaram 7 meses. 7 meses fantásticos em que muita coisa mudou... Os CAEB's, Campos de Férias e a Oficina de Português tiveram de ficar. Chorei, doeu e custou... mas a mudança não tem de ser necessariamente má. E agora??? Agora... Santa Nón, que é como quem diz, Santa Casa da Misericórdia, de São Tomé e Príncipe. E lá está a "Máfáda" de malas aviadas para o Príncipe... mas... Kiladeô!!! Não há aviões!!! E por S.Tomé cá continuo... Passando pelos CAEB's para matar saudades, mostrando S.Tomé e ajudando... espalhando sorrisos. Como dizia a Yara "Máfáda sorri mesmo quando não dá vontade". E é assim, com um sorriso, cheio de vontade, que inauguro hoje o meu blogue para vos ir mostrando leve-leve um pouco desta maravilha de Deçu que vai muito para além da luxúria da vegetação, das águas mornas e cálidas... sim... porque, "chê! Kê kua?!" tudo me vai maravilhando... Xauê!!! Fiquem com Deçuê!



*bom dja! - bom dia

*CAEB's - Centros de Apoio Escolar e Biblioteca

*Kidalê ô - Socorro

*Deçu - Deus