segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ritmo bala-bala

O ritmo tresloucado dos fins-de-semana continua… depois de, na 4ª feira, ter decidido ir às irmãs ver do pé, estava bem pior e as dores tinham regressado em força, soube bem chegar a casa e ouvir música, ver gente a dançar, sentir movimento, notar que não ia estar descansada. Era o Marcelo com a sua escola de dança (à qual me vou juntar na próxima quarta-feira). E, assim, fiquei a gozar o desassossego, tomei o antibiótico que a irmã me deu – o que o médico receitou não há na ilha – e fiquei melhor! Entretanto, precisei de sair à noite, bem tarde, 22h, e o carro… niente! Não arrancou. Não acendeu luz nenhuma. Não funcionou. E, para juntar à festa, havia alguém a rondar o Centro. O Nicolau acudiu-me logo, fiquei a saber que a Lília e a Liliete (sobrinhas gémeas do Nicolau) faziam anos, dei-lhes os parabéns e a Lília veio dormir comigo. (Está um mosqui – estava! - Acabei de o matar. Ainda não tinha escrito completamente a palavra quando passou à minha frente, novamente, debaixo da rede, e “pá!”, foi-se. Enquanto pensava que era uma “chatice” ter um mosquito dentro do mosquiteiro, apareceu uma lagartixa, que seguiu caminho para trás do armário, e não está a cumprir o seu dever…) Retomando… com estas coisas não tive a sesta e deitei-me tarde. A noite foi boa mas curta… às 7h lá tinha a Fátima com o seu bem disposto “Máfalda! Máfalda”, e claro que não podia deixar de retribuir! Tinha de tratar do carro e das dores… e, ainda, o João e o Filipe chegariam às 10h30 (e, logo na quinta, que dava jeito, o avião não atrasou). O Nicolau desenrascou a chegada do Filipe e do João. As dores… aguentam-se. O carro é que já não se aguenta! Problema eléctrico (o Nando, condutor do Presidente da Assembleia, diagnosticou o problema – também é mecânico – e encontrou-me um electricista), a bateria que caiu do sítio (as estradas cá são “excelentes”), partiu algumas pás da ventoinha, o carro aqueceu e ficámos parados a caminho de Sundy. 3 leigos em mecânica a olhar para o carro e o fio de massa que ainda nos confundia mais. Valeu-nos o Nando que veio acudir e um senhor de Ponta do Sol que já me conhecia… das avarias! Quando o pneu furou na Ponta do Sol, ele estava lá, quando avariou em Azeitona, lá estava ele. Muito prestável. Nada de muito grave, bateria amarrada, carro arrefecido e lá seguimos até Sundy.
Cheirava a cacharamba, é guarda, mas também faz de cicerone nas horas “vagas”, recebe um milhão e acha que recebe mal (o ordenado minímo são à volta de 600.000 STD). Lá fomos visitar os fornos do café… “aqui é onde torra o café. Vai assim, depois ali, lá, entra. E aqui o cacau, seca mas quando não, agora, está entregue.” Aos bichos! No lugar do cacau estava um porco e aspecto de não ter cacau há 30 anos, tal como o forno do café. Mas o tempo não passa e tudo é dito no presente. Perpétua a memória de um senhor Carneiro, que ele já não conheceu, mas que muito ouviu falar aos pais e aos avós, um “senhor que fez muito. Um grande senhor. O dono de daqui, sabe?” “Sim, já ouvi falar” “é familiar?” e que sorriso rasgado vi abrir-se. Mas não sou… o sorriso diminui, não de desapontamento mas porque algo não renasceu… e a boa disposição acompanha-nos, tal como os argumentos para lhe darmos um telemóvel. Queria comprar frutos “só no campo, é longe, já essa hora. Mais si tivesse móvel, cê ligava pa mim dizer que tava vir e eu manha trazia.” Ainda visitaram Nova Estrela, maravilharam-se com o boné de jóquei e as formações montanhosas que, roubando um mamão no Terreiro Velho, puderam apreciar. Descemos para Abade e sentiram-se em casa acampando na praia Évora. Cedinho… subiram ao morro do papagaio enquanto eu, de pé para o ar, trabalhava. Para me consolarem trouxeram-me jaca do quintal do Pico, e à tarde descemos até Maria Correia... alguém, cansado, desculpando-se da subida ao Pico, cansou o Tó (chefe da segurança do presidente da assembleia) com perguntas como “ainda falta muito?” “quando é que chegamos?” e ganhámos um passeio de barco! Numa Piroga da Lapa chegámos à Maria Correia e… uma tenda para montar! Alegria!!! Que um final de tarde a ver peixes, a “snorklar”, a apreciar a envolvência das gentes, das montanhas, do mar, dos verdes, dos ruídos, dos papagaios no voo de regresso a casa, completou. Assar linguiças. Duas, a terceira foi levada pelos cães, que desistiram de ser herbívoros. Filipe na guitarra, alguém na voz, fogueira, gente à roda, Kentucu e Porto, cães e o Gorila. Misturas de músicas pediram batuques improvisados. Bidons, garrafas, baldes. Palmas e danças. Cantares em português, Lung’ihé, forro e crioulo. Noite estrelada e ambiente… lembrar fogos de conselho, redores de fogueira. Uns em pé, outros em bancos e cadeiras toscas. Passos de dança ao som de mornas. “Espectáculo!” diria o Arnaldo. A fogueira foi-se consumindo… ficou em brasa e assaram-se umas frutas. Alguém jogou, ainda, à Bisca 61 e… a primeira noite de campo do Gorila! Acordar na areia, abrir a tenda e sentir o nascer do sol no mar, ouvi-lo nas montanhas e sentir o acordar. Lavar os dentes no rio (o médico da consulta do viajante teria algo a dizer) e “reforços! Reforços!”, saltam de todo o lado e correm para o mato, as crianças pedem-me mais músicas novas. O porco, que andava fugido, foi morto. Depois de um mergulho de uma hora, leite com chocolate e bolachas. Vemos o bicho a ser preparado e a assar na fogueira… Piri – piri demais. A fruta estava excelente e as papas de milho também, mas a canela dar-lhes-ia “aquele” toque. Ouvimos ainda o Nestor a contar o porquê de Regissida para nome do macaco dele. Inicialmente só “Regis, um lutador de boxe, forte assim” e faz o movimento muscular de força com os braços em frente ao peito, “depois caiu numa panela no fogo e ficou assim”, faltam-lhe bocados de pêlo e sobra-lhe o ar infeliz e assustado, “parece que tem sida”, ficou Regissida. E nós a pensarmos que era por ter morto um outro macaco, um rei… Fazia-se tarde e ao meio dia tínhamos de estar na Juditinha, 1hora e meia de caminho com duas subidas “de abuso” que muita fama têm… subimo-las sem parar, acompanhados por 8 cães do Munuma (o grande cantor de bulauê – uma cantoria/dança típica de cá – da noite anterior). Demos-lhe boleia até Picantê, que fica depois de Montalegre e antes de Porto Real, na descida para esta Roça viramos à esquerda aquando da curva. Só pôde subir para a carrinha depois do portão de São Joaquim “para os cães não ficarem à espera e perceberem que é para irem ter comigo a casa”.
Meio dia em ponto e estávamos na Juditinha, últimos preparativos, deixar a tralha em casa, arrumar a criançada e descer para a praia Burra. Festa do São Pedro depois de estrearmos a estrada com alguns meses. Antes o acesso era somente feito a pé. Estreita, curva e contra-curva, terra vermelha e derrapante. Sempre a apitar. Pouco espaço para estacionar e inversão de marcha apertada (a primeira manobra complicada em 9 meses), sob o olhar atento e desconfiado de uma população acacharambada, ou não fosse a única mulher branca presente e a única mulher que “corre” carro. Mas estive à altura! Acho. Apreciar a chola e a piroga do homem de vestido, levar os miúdos a conhecer a praia banana. 5 minutos a pé pela areia, passar as rochas e, o caminho por este lado é bem melhor que uma estrada em pedra cascalho com inclinação de uns 70%, como é o acesso pelo Precipício. Banho tomado, pintado (arroz com feijão) e peixe frito comido. Coco seco e criado para sobremesa mais caroço (ou “carroço”, como alguns por cá dizem e depois geram confusão à gente das revistas especialistas em viagens, que escrevem, convencidas, que a árvore com copa larga e sombra generosa se chama “carroceiro” e não caroceiro), cuja parte de fora é adorada por miúdos e a parte de dentro, a amêndoa do caroço, é degustada por mim – não sei se tal parte é segredo Lung’ihé, mas em São Tomé nunca vi nenhuma criança a comê-la. Regresso a casa com passagem por Belo Monte… julgávamos nós! E muito enfureceu o senhor a quem demos boleia, que julgou virmos directos para a cidade. Tinha deixado a mulher na festa, queria fugir dela e vá-se lá saber que mais. Ficáos a meio caminho, logo no início do perímetro da Roça. Estrada ´”boa”, com valas, calhaus salientes, morros e morrinhos de barro e um furo. Não podia ficar no meio do caminho, curvas e sem espaço para um outro carro. A placa a anunciar a Roça estava perto e foi só descer um bocadinho, aproveitando o ar que restava. Mais espaço… telefonar ao Nicolau, que andava com o nosso pneu suplente. “piriplit”, a praia Burra tem pouca rede e eu já tinha feito boa parte do caminho a pé para ter rede, eu própria, foi só continuar. Com o João e o senhor que ziguezagueando também já se tinha posto a caminho para a cidade. No cruzamento com a Roça Paciência apanhámos boleia até à Praia Burra, e o nosso amigo Sidónio também (lembrei-me agora do nome do senhor). E ele que tanto queria ir para a cidade. Na descida cruzou-se connosco o Nicolau e lá entrámos no carro… ainda bem! A quem tínhamos pedido que o avisasse do nosso furo avisou, mas não disse que estávamos no caminho de Belo Monte… Pneu trocado e suplente em pior estado, mas com algum ar. Malabarismo para não furar e chegada à cidade. Impávido e sereno aparece também o Sidónio que aos resmungos e refilanços da Guida (mulher dele próprio) continua o caminho à roda da casa e da quitanda da Juditinha (ele mora na casa à frente). Mesmo a tempo estacionamos no Centro de Dia e tomamos o nosso merecido banho. Pneu totalmente no chão. Jantar, a pé, e antes de um merecido sono reparador… atrofio em frente à Caravela, a única discoteca mais ou menos digna deste nome mas que vi funcionar apenas um par de vezes. Domingo… dia de chegadas e partidas. Dar a provar os excelentes iogurtes de leite em pó. Convenceram… Aeroporto. Ia cheio, o voo, e trouxe a Sílvia. Novo ar, novidades e a casa que não fica vazia. Tarde com cartada, aprender a jogar à Bisca 61. Confuso, não se assiste, trunfo só no final da mão, jogo cujas regras são as regras da batotice num jogo “normal”. Jantar no sorveteria. Muito boas as coxas de frango com banana e matabala pala-pála. Excelente apresentação. “Não há aulas e genti podi ficar pa mais tardi”, por isso, mesmo sendo domingo, houve festa no “Bom Sítio”, na margem direita do Rio Papagaio, logo a seguir à ponte. Sílvia a navegar na assembleia e Mafalda a dançar até a bateria do portátil acabar. Dormir…

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