sábado, 19 de julho de 2008

Ontem corria (conduzia) o carro da Mariana e sentia que já não conhecia as estradas de São Tomé. Já o tinha sentido aquando da visita guiada ao Rosado e ao Maltez (os dois oficiais da Sagres, amorosos, deram-me um poster do Navio). Já não há buracos, ou os que há são novos e os outros, os que eu cá tinha deixado e também tinha encontrado, desapareceram… e, assim, é estranho. O único que continua igual a si mesmo é o de Água Arroz, mas que agora está apenas numa cratera… estou uma estrangeira! Ontem acabámos o inventário, finalmente! Descobrimos, ainda, um caixote vindo de Espanha, - como sei que era de Espanha? Tinha um jornal gratuito em castelhano - (está vento demais…a Gravana é assim…) cheio de inutilidades e lixo. Como deu trabalho… pó, caixas, muda dali, puxa para acolá. “Complicadoê”… e cansativo! Saturante, mas já está. Saturante, especialmente pelo sentimento de inutilidade. Logísticas e armazéns fazem sentir longe da missão, mas é preciso! E lá fizemos. Eu, a Maria e a Elba. À noite, na Bienal, houve um Bufet de comida saudável apenas com produtos da terra. 100% vegetariano, ou vegetalista – como a senhora gostou de se denominar –. Eu não percebi a diferença… melhor, a diferença como me foi apresentada não me convenceu. Durante a manhã fui até à Mari buscar o meu vestido e a minha camisola, ficaram giros! A descer, de moto praça, apanhei um anúncio volante do Ecobank. A máquina estava na mochila e não deu para a sacar, o trânsito estava instável… tentem imaginar. Uma carrinha de caixa aberta decorada com um pano africano com fundo branco e todo preenchido a azul com o nome do banco, em letras 14 (talvez), todas “seguidinhas”. Na caixa aberta lençóis brancos, de lado, dizendo “semana dos particulares” e um rapaz com um microfone e uma coluna a falar dizendo coisas como “apróveiti esta simana! Abra sua conta no Ecobank. Só 500.000 STD! Grandi sémana dos párticularis!”. E lá passou o anúncio do Ecobank… Ah… e claro, quando acordei não havia água e quando cheguei a casa não havia energia. Mas à chegada da Dolores havia tudo!
Depois de escrever o primeiro parágrafo tomei o pequeno-almoço e fui até ao Companhia para um sumo natural. O Tó apanhou-me e fomos até Micóló acompanhar o pai e a madrasta dele, Cravid e Segunda, respectivamente. Mergulho na praia do governador e tentativa de furto - o Tó conhece São-Tomense bem demais e conseguimo-lo afugentar antes de ter oportunidade de concretizar – e Búzio do mar! Há tanto, tanto tempo (no Príncipe “áinda”, tradução? Não encontrei)… mas tinha malagueta demais e a boca ficou quente. Veio concon (um peixe) para amenizar e… malagueta demais também. Para esfriar, água, banana e gelado! Gelado de iogurte que a Segunda faz e me esteve a ensinar. Excelente mesmo e aqui vos deixo umas fotografias, bem como do fruto Tamarindo, que é amargo bastante. Mas, como disse o Tó, “nem todo é assim não, depende da madeira própria, há madeira vai ver é doce”. Conversas engraçadas como ele não querer ter filhos cedo mas mulher, que nem era dele nem de outro, pediu e ele fez, assim… e é isto que me faz feliz, são estes momentos, o lavar as mãos num alguidar, o ir a uma latrina, o visitar a cozinha e cozinhar debaixo da estacaria das casas, o sentar na rua só a conversar, o sentir a areia nos pés, o descalçar à entrada, que me fazem sentir uma deles sem perder a minha cultura e a minha essência. No entanto o momento delicioso, o momento ternurento do dia e insubstituível veio agora.
Estou a ir, que é como quem diz, vou até à embaixada do Brasil para a festa Junina. Vou fazer capoeira! Vim ver os e-mails… e uma carta da Nocas! Com envelope e tudo! Conta que já lhe caíram 4 dentes, já escreve com uma letra perfeitinha e já vai para a primeira classe… que saudades. Demais mesmo… que delícia… os desenhos, a caligrafia, as saudades e os beijinhos. (deixo-vos também com um triangulo de sinalização à moda “São-tomensiê”. – e a propósito deste triangulo… um dia, no Príncipe, estava um do género no chão. Abri bem os olhos e com atenção fui olhando a estrada para descobrir onde estaria o perigo. “PAFF” bateu-me um fio de electricidade no pára-brisas… afinal o perigo estava no ar, sem qualquer sinalização aérea, e como estavam a colocá-lo a sua localização era inconstante.)

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