sábado, 30 de agosto de 2008

São Lourenço!



Às 7h da manhã somos arrancados da ronha pelo som da trombeta que anuncia o início do São Lourenço. É chegado o dia mais esperado do ano, preparado há mais de um mês com ensaios e festas de São Pedro. “Actuação” de discoteca, na noite anterior, alusiva ao Auto e… Os mensageiros de Carlos Magno e do Almirante Balão começam a recolher os seus pares. Aos poucos as ruas, a seu tempo, à sua vez, são inundadas por gente cujo tom de pele contrasta harmoniosamente com as vestes em tons de verde, branco e azul, vermelho, amarelo e cor-de-rosa. Danças e músicas, acenos, abanar de estandartes acompanham os transeuntes que, ao passar dos exércitos, os seguem assumindo o seu papel de figurantes. Exércitos reunidos. É hora de recolher ao castelo onde os seus senhores os aguardam. Almirante Balão, e as suas tropas, untam-se e bebem do óleo sagrado dos deuses, Carlos Magno, e os seus cavaleiros, rezam ao seu Deus. As batalhas têm início, mas não sem antes os bobos serem chamados. Lutam por rebuçados, jogam cartas e à bola, navegam na internet e, de chicote em punho, colocam os curiosos, os comentadores das batalhas, aqueles que dão os seus “bitaites” sobre como atacar, os pontos, os transeuntes, os figurantes, no passeio, a salvo de espadas e escudos. Está em jogo, para além da fé e da luta por territórios, um grande amor entre Floripes (filha do Almirante Balão) e Gui de Borgonha (sobrinho de Carlos Magno). Vai haver casamento, é certo, ou não seria uma bonita Estória de amor. Casamento é sinónimo de toilette e a população responde a este chamamento. De crianças a adultos, passando pelos jovens, todos envergam a melhor roupa, é dia de São Lourenço! E o dia passa, entre batalhas, escaramuças, provocações e cervejas, intervalo para um churrasco e… acontece o rapto. Por livre vontade, Floripes trai o pai e é raptada pelos homens de Carlos Magno, converte-se ao Cristianismo e casa com Gui de Borgonha. No casamento não faltam o bolo de noiva e o champanhe, aias, a segurar o vestido, e os convidados. O bolo é distribuído pelos transeuntes (eu cheguei tarde…) O Almirante Balão, furioso, invoca o seu deus, Mafoma, e, com o seu exército, ataca Carlos Magno. Mesmo apanhado desprevenido, e ao fim de uma árdua batalha, o exército Cristão sai vencedor e, já de noite, pelas ruas se dança e canta vitória dos azuis, verde e branco. Mas o São Lourenço não é apenas o Auto de Floripes… o dia da festa é o dia 15, assinalado com a primeira encenação do referido Auto, e, ainda, com a abertura das barraquinhas, que se mantêm em funcionamento durante a semana seguinte, até à reposição do Auto, dando uma nova animação nocturna à praça principal. Algumas, de donos mais persistentes, mantém-se abertas por mais uns dias, mais uma semana para além do normal. Quase todas as noites há actuação das discotecas ou outro acontecimento cultural, ora organizado pelas entidades competentes, ora espontaneamente pela população. E, assim, assisti a uma exposição fotográfica, a uma apresentação de uma criança, a um concerto da banda dos escuteiros e, pois claro, ao 2-0 do Sporting ao Porto!!!


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