quarta-feira, 21 de maio de 2008

E o trabalho começa...


Príncipe… que momentos… rebobino as fotografias destes últimos dias e recordo aquelas pessoas. Ontem (19) foi o primeiro dia de entrevistas… entrevistar idosos, possíveis utentes do Centro de Dia da Santa Ké Nón no Príncipe. Alguma expectativa e receio, desvanecido com um “yé, yé, yé” com as crianças de Porto Real. Iríamos começar lá e subir… mas os idosos tinham ido para o mato. Estavam as crianças do “Járdim”… o coça a cabeça, o esconde atrás do dedo e das mãos pequeninas que deixam antever um sorriso rasgado à espera de ser conquistado com uma música, um jogo ou um simples estender de mão e… sorrisos de Deus despontam. Dão-me força, dão-nos força para não temer águas ainda não sulcadas. Lá seguimos, ouvindo atrás de nós o “yé, yé, yé” , e, em Montalegre também os idosos tinham ido para o mato. Descemos a recta de Porto Real e… conversando com a Nhá Tui fico a saber que é Cabo Verdiana. Muito alegre e orgulhosa dos seus filhos e netos levanta-se, e, ao vir do quarto, traz na mão dois tesouros, duas fotografias. A recordação da “patente” e a recordação do Crisma, “Chê!!! É o Dédé e o Sr. Eduardo!!!” que alegria!!! Nhá Tui é a avó de um dos animadores do CAEB de Santo Amaro e mãe do sacristão daquela paróquia. Que maravilha… ligo ao Dédé e… tão bom ouvi-lo… tão bom ouvi-lo e poder dizer-lhe que estava em casa da avó! Mais sorrisos rasgados e sigo para casa da mãe da Ir. Fernanda, tão parecidas… e torno a sentir-me em casa… e assim continuei o resto do dia. Percorrendo casas de idosos, casas tratadas e cuidadas, apesar da pobreza e das dificuldades. Pessimistas? Nada. “Tá a lutar…” dizia-me, hoje, um senhor deitado numa cama há três dias. Não tinha todos os seus dados… “sou pescador”, “de angolares”, e o passado e o presente entrelaçam-se como se fossem um só para esquecer este abandono. O abandono de uma filha que mora ao lado, perto mesmo, numa outra casa com alguns quartos, quintal arranjado e uma pequena quitanda… o dever é só mesmo alimentar, lá deixar de manhã o matabicho, o almoço e o jantar ao pai. Passa o dia e outro vem, recolhe e deixa, e esquece, esquecendo também que os filhos a vêem e que a imitam, que a imitarão…

Sem comentários: